A morte nos faz cair em seu alçapão, / É uma mão que nos agarra / E nunca mais nos solta. / A morte para todos faz capa escura, / E faz da terra uma toalha; / Sem distinção ela nos serve, / Põe os segredos a descoberto, / A morte liberta o escravo, / A morte submete rei e papa / E paga a cada um seu salário, / E devolve ao pobre o que ele perde / E toma do rico o que ele abocanha.
(Hélinand de Froidmont. Os Versos da Morte. Poema do século XII. São Paulo : Ateliê Editorial / Editora Imaginário, 1996. 50, vv. 361-372)

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Noivas fogem de igreja que fica perto de cemitério em Minas Gerais

Para chegar ao altar, noivos teriam que passar por pelo menos 20 túmulos.
Noivo não conseguiu convencer família a fazer cerimônia no local.


Imagem do cemitério e da capela da vila de Desemboque, em Minas Gerais, extraída do vídeo da matéria do Jornal Hoje.

Do G1.globo.com
brasil - curiosidades - publicado em 15/10/2009, com informações transcritas de matéria do "contador de causos" do Jornal Hoje, o repórter Luiz Gustavo.

Em Minas Gerais, existe uma igreja que nenhuma noiva quer casar. Nem as mais desesperadas por um marido. Para entrar no templo, é necessário passar por um cemitério. Quem se aventura?

A igreja fica um cantinho escondido de Minas Gerais. Chama-se Desemboque, perto de Uberaba (MG). A vila já teve cara de cidade, com seminário e cadeia,mas, hoje, a mesma rua vai e volta. Sobraram apenas 50 moradores.

Eles dizem que um padre namorador trabalhava na igrejinha. Na época, era comum ter um cemitério bem na porta. Ninguém estranhava. Duzentos e cinquenta anos depois, como ninguém se atreve a mexer no projeto original, a dupla cemitério-capela continua.

Ninguém sabe dizer quantas pessoas já foram enterradas em Desemboque, mas, para chegar até o altar, os noivos teriam que passar por pelo menos 20 túmulos.

O povo costuma dizer que as portas raramente se abrem para casamentos, porque não há infraestrutura na vila, como manicure, salão de beleza e outros caprichos que a mulherada adora. Mas, na verdade, muitos vizinhos têm medo de assombração. "Ali pelas oito, nove horas da noite, eu não tenho coragem de ir lá embaixo", diz uma senhora.

O locutor Wagner Luiz Montagner queria provar que não tem nada errado em casar nesta igreja. Chegou a convencer a noiva. Mas as famílias entraram no meio. "A sogra falou que não podia e a mãe também disse que o casamento não ia dar certo", conta.

Contrariando todos os temores, Josabel Rosa de Araújo está há quase 40 anos com Leonidas. Foi um dos últimos casamentos do povoado. Ela lembra que, quando seguiu para a igreja, foi em frente, sem olhar para o lado. "Falei: 'vou enfrentar', a igreja estava linda."

Veja também: http://g1.globo.com/jornalhoje/0,,MUL1342455-16022,00-A+IGREJA+DE+ONDE+AS+NOIVAS+QUEREM+DISTANCIA.html

Assista ao Vídeo com a matéria do Jornal Hoje:

http://video.globo.com/Videos/Player/Noticias/0,,GIM1142121-7823-CONHECA+A+IGREJA+MINEIRA+EM+QUE+NENHUMA+NOIVA+QUER+SE+CASAR,00.html

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Assim na terra como no céu

Visão Geral do Cemitério São Francisco [o "cemitério dos pobres"] na cidade de Sobral, Ceará. Foto: Francisco M. E. Gomes. Novembro de 2007.


No Ceará, desaparecem túmulos do “cemitério dos pobres” e, com eles, importante registro do século XIX.

Por Juliana Barreto Farias
Publicado na Revista de História da Biblioteca Nacional, Seção "Em Dia", pág. 08, Edição nº 47, [01 de] Agosto de 2009.



HOUVE UM TEMPO em que os mortos conviviam muito bem com os vivos. As sepulturas ficavam no interior das igrejas e nos seus arredores, e os enterros eram realizados com muita pompa. Hoje, queremos a morte bem longe de nossas vidas. Tanto que pouca gente se preocupa com a preservação dos velhos jazigos. A cidade de Sobral, no Ceará, é um exemplo desse descaso: os túmulos do século XIX estão “sumindo” do cemitério de São Francisco.


“Ser enterrado ali era ser obrigatoriamente tachado de pobre, por isso muitos não se importam que os resquícios daquele tempo desapareçam. De todos os túmulos, apenas cinco têm inscrições do século XIX. Novas catacumbas foram construídas sobre as antigas. E os donos das sepulturas modernizadas, ao pintarem suas propriedades, mancham os túmulos antigos. Aos poucos, vamos perdendo janelas que mostram como morria a classe menos favorecida de uma sociedade tradicional como a sobralense”, revela o historiador Francisco Maurigélbio Estevão Gomes, autor de monografia sobre as práticas mortuárias na cidade.



Manchas de cal em uma das lápides do século XIX no Cemitério São Francisco, em Sobral, Ceará. Foto: Francisco M. E. Gomes. Novembro de 2007.


Como em outras regiões do Brasil, os moradores da pequena vila cearense costumavam ser enterrados, pelo menos até a década de 1850, no chão da matriz ou em suas redondezas. Era uma garantia de “bem morrer”, mantendo contato com os vivos e também com seus protetores divinos. O forte cheiro dos corpos em decomposição não incomodava os fiéis, mas médicos e autoridades sanitárias acreditavam que essas práticas poluíam o ar e propagavam doenças. Por isso, os sepultamentos nas igrejas começaram a ser proibidos.



Em Sobral, isso aconteceu depois que um surto de febre amarela se alastrou pela cidade, em 1851. Em pouco tempo, a Câmara Municipal autorizou a construção do primeiro “campo santo”. Inaugurado em 1857, o Cemitério de São José, como ficou conhecido, passou a abrigar os corpos dos moradores mais ilustres e também os das vítimas da febre. Só que os administradores locais acreditavam que a população ficaria mais protegida se os doentes fossem enterrados fora do perímetro urbano. Por isso, um novo cemitério, chamado de São Francisco, foi instalado numa área mais afastada da cidade.



Aspecto de muro com carneiros verticais no cemitério São Francisco, em Sobral, Ceará. Foto: Francisco M. E. Gomes. Novembro de 2007.


“Com o tempo isso, passou a ser entendido como: no São José se enterra quem pode arcar com a construção de um túmulo, ou seja, ‘os ricos’, e no São Francisco, ‘os pobres’. Até aí, pouco difere das demais cidades que também têm dois cemitérios, um para cada classe social. Mas, em Sobral, quase nada restou dos túmulos do São Francisco”, diz Francisco Gomes. E mesmo as catacumbas dos “mais ricos” foram perdendo estátuas, obeliscos e outros monumentos comuns ainda nas primeiras décadas do século XX. Agora, basta escolher uma lápide padrão e colocá-la à altura do chão. “Os novos cemitérios – quase sempre privados – procuram ‘serenizar’ o ambiente, deixando de lado aquele sentimento de homenagear o falecido com algo físico e pessoal. Hoje, a massificação vem igualando todos os jazigos”, completa o historiador.
Sobre polêmica acerca de plágio da reportagem acima veja o blog: "Revendo o Passado" do historiador Francisco Maurigélbio Estevão Gomes:

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Favela da periferia de Lima abriga cemitério dos incas

ESCAVAÇÃO DIFÍCIL. Os arqueólogos peruanos tiveram de desenterrar o que restou do cemitério inca (Foto: Revista Galileu)

Por Martha San Juan França
Enviada especial da Revista GALILEU a Lima (Peru).
Publicado na reportagem: A última trincheira Inca. In: Galileu. São Paulo, Editora Globo, ano 11, nº 130, maio/2002, p. 68-9.




Os incas se destacaram na História latino-americana por muitos motivos, mas principalmente por suas cidades monumentais construídas de enormes blocos de pedra perfeitamente encaixados e pelas estradas e terraços agrícolas abastecidos por um eficiente sistema de irrigação que até hoje servem de motivo de orgulho e admiração de engenheiros e urbanistas peruanos. Por isso, não deixa de ser irônico que uma equipe de arqueólogos daquele país tenha iniciado uma operação de salvamento da herança inca enterrada embaixo de um amontoado de casebres situados em Puruchuco, na periferia de Lima – a favela de Tupac Amaru, o nome sendo uma homenagem dos pobres moradores da comunidade, na maioria de origem indígena, ao último imperador que desafiou os conquistadores espanhóis.



Ali, exatamente sob a favela que abriga mais de 1.200 famílias vivendo em condições precárias, foi descoberto o segundo maior cemitério inca do Peru. Sem água nem esgoto, os moradores da favela ameaçam involuntariamente o tesouro arqueológico escondido sob o solo árido que até dez anos atrás permanecia intacto. Numa luta contra o tempo, os arqueólogos conseguiram salvar nos últimos três anos os restos de aproximadamente 2.200 indivíduos de várias classes sociais, ali enterrados – ou cerca de 40% do cemitério. Com os corpos mumificados, foram encontrados objetos de uso pessoal, religiosos, roupas e uma parte da história cotidiana desse povo que, apesar de tão falado, não deixou registros escritos. O que se sabe sobre os incas hoje foi retirado dos documentos dos conquistadores espanhóis, do estudo dos monumentos e objetos e da herança oral indígena.



"Podemos dizer com segurança que 99,8% desses 'túmulos' foram feitos em um período de apenas 75 anos, o que torna o cemitério de Puruchuco uma amostra inigualável da história inca", afirmou a GALILEU o arqueólogo peruano Guillermo Cock, responsável pela operação de salvamento. Hoje, ele conta com o apoio da National Geographic Society para fazer as escavações, mas nos primeiros tempos, Cock teve que enfrentar a desconfiança da comunidade, temerosa de ser expulsa de suas casas, e até de remanescentes do grupo terrorista Sendero Luminoso.


Um desenho dos túmulos (Desenho: Revista Galileu)

"Falsas cabezas"


O arqueólogo peruano chama a atenção para a descoberta em Puruchuco de quase 40 "falsas cabezas", uma espécie de embrulho com um lado saliente, contendo vários indivíduos. Esses "embrulhos" eram enterrados em um poço amplo escavado a uma profundidade de 4 a 5 metros. Assim que esses poços ficavam lotados de "falsas cabezas", o espaço era completado com oferendas de alimentos, presentes e vários objetos. Acima deles, eram enterrados outros corpos, preenchendo "túmulos" de três camadas, tendo as "falsas cabezas" ao fundo.



Sem ter permissão para entrar nas casas dos moradores da favela, Cock e sua equipe tiveram que trabalhar no que restou de espaços abertos, nas ruas e entre os blocos - sempre cercados pela comunidade. "Um dos nossos maiores desafios foram as péssimas condições de saúde", recorda Cock. "Toda a água do local era trazida em caminhões e já chegava contaminada. É triste dizer, mas os moradores de Tupac Amaru já se adaptaram a isso. Mas os integrantes da equipe de arqueólogos ficaram doentes logo nos primeiros dias."



Em um pequeno prédio de dois andares no centro de Lima, os arqueólogos guardam centenas de fardos contendo os achados de Tupac Amaru. Resta analisar o conteúdo e entender mais sobre as condições sociais, econômicas, políticas e religiosas dos antepassados dos atuais moradores da favela.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Escola construída sobre cemitério traz lições de história

Sepulturas de 103 judeus foram escavadas na construção de escola. Exumação levantou tema da preservação de cemitérios judaicos.


David Stoleru no local da construção da escola em um cemitério judaico em Toledo, em 17 de junho (Foto: Michael Kamber/The New York Times)

Por Victoria Burnett

Do 'The New York Times' Europa [Toledo Journal] publicado em 01/07/2009.

Versão em português: G1 Notícias - Mundo/Espanha em 25/07/09 - 12h00

TOLEDO, Espanha - Enquanto esta cidade alta e medieval cozinhava no calor da tarde, um grupo de líderes judeus se juntavam ao lado de uma sepultura cavada. Eles se abaixavam para observar pequenos montes de ossos lascados e antigos. Com orações e pedidos de perdão por perturbar a paz de mais de cem almas medievais, eles colocaram os ossos na terra avermelhada.

A discreta cerimônia, no final de junho, marcou o fim de meses de delicadas negociações entre grupos judaicos e autoridades espanholas sobre o destino dos restos mortais de 103 judeus espanhóis, cujas sepulturas foram escavadas, no ano passado, durante a construção de um edifício escolar num subúrbio desta cidade histórica.

A exumação infligiu uma condenação internacional de representantes judeus e se tornou um importante campo de batalha na busca pela preservação de cemitérios judaicos por toda a Espanha, remanescentes de uma próspera comunidade que fez de Toledo sua capital, antes de sua expulsão pelos monarcas católicos da Espanha, em 1492.

A disputa enfrentou as exigências da sociedade moderna, contra os direitos de um povo espalhado, para quem uma tumba permanente é um requisito religioso crucial. Isso gerou atritos entre grupos judeus ansiosos por proteger seu patrimônio, mas divididos sobre a forma de lidar com um governo laico.

"Toledo é central para a história judaica", disse David Stoleru, co-fundador do Centro de Estudos Zakhor [ http://www.zakhor.net/ ], em Barcelona, um grupo de pesquisa dedicado à preservação do patrimônio judaico. "O Estado tem o dever de proteger esse legado." "Esse assunto tem repercussões internacionais", disse Stoleru. "Não está afetando apenas a comunidade judaica na Espanha, mas a sensibilidade de um povo inteiro."

A próspera comunidade judaica da Espanha havia feito de Toledo sua capital antes da expulsão em 1492. (Mapa: The New York Times)

Origem

A controvérsia começou em setembro, quando construtoras, cavando uma nova base da Escola Azarquiel, descobriram dezenas de sepulturas. Acredita-se que elas sejam parte de um cemitério judaico do século XIII. O cemitério pode se estender para além do terreno da escola; Stoleru afirmou ter visto recentemente ossos no terreno de outro local de construção ali perto.

O governo de Castilla-La Mancha, região da qual Toledo é a capital, local de intensa movimentação turística, interrompeu a escavação e armazenou os restos mortais num museu enquanto discutia, sobre o destino do material, com a Federação de Comunidades Judaicas da Espanha, que representa 40 mil judeus espanhóis.

Representantes judeus sugeriram a construção de uma base suspensa, para ficar acima das sepulturas. No entanto, rabinos e oficiais envolvidos no diálogo disseram que isso seria difícil e custoso.

Maria Soledad Herrero, administradora da secretaria regional de cultura do governo, disse que as autoridades teriam que equilibrar as necessidades históricas com as dos alunos.

"Ninguém sabe melhor a importância do legado judaico espanhol mais que nós, aqui em Toledo", disse ela, por telefone. "Porém, não podemos colocar mil alunos para fora".

À medida que os diálogos se arrastavam, a pressão econômica cresceu. Em fevereiro, as autoridades ordenaram o reinício da construção. Em meados de junho, uma base havia sido colocada e o esqueleto de um edifício de dois andares pairava sobre o local das sepulturas.

Enquanto isso, protestos internacionais se espalharam por Nova York, Israel e Canadá. O rabino David Niederman, presidente das Organizações Judaicas Unidas de Williamsburg, no bairro do Brooklyn, em Nova York, visitou a Espanha para protestar contra a exumação – que ele alegou ser equivalente a uma segunda expulsão de seu povo. Milhares de judeus ortodoxos vestidos de preto se uniram num hotel no Brooklyn em maio último, para lamentar o sacrilégio.

Finalmente, no dia 18 de junho, as partes concordaram em enterrar os restos mortais próximos às sepulturas originais, mas fora da área de construção.

Dalia Levinsohn, secretária-geral da Federação de Comunidades Judaicas da Espanha, saudou o acordo como a melhor solução disponível e rebateu críticas de grupos defensores de uma postura mais rígida.

"Fizemos o que pudemos", disse ela, por telefone. "Se fizermos um estardalhaço, da próxima vez que alguém encontrar restos mortais, não vão nos dizer uma palavra sobre isso."

Tumbas em uma das duas sinagogas medievais de Toledo (Foto: Michael Kamber/The New York Times)

No entanto, o simbolismo de Toledo fez do episódio um precedente importante e preocupante, afirmam preservacionistas e líderes religiosos.

"Não é um exemplo que queremos repetir", disse o rabino Moshe Bendahan, principal religioso judaico da Espanha, que ajudou a intermediar o acordo. "O ideal seria não escavar o lugar".

Preservação

Representantes religiosos em Toledo afirmam que a cidade deveria aproveitar o ressurgimento do interesse no passado judaico espanhol para promover o entendimento. A cidade, que abriga duas das três últimas sinagogas medievais da Espanha, mas basicamente não tem judeus praticantes em sua população, mostra sua história: suas ruas de pedras são alinhadas com lojas que vendem espadas, cerâmicas e figurinos medievais, e um pequeno bonde cheio de turistas percorre seus monumentos.

O governo regional mostrou disposição para sacrificar a construção moderna em nome da preservação de sítios históricos: há três anos, interrompeu os planos de uma empreiteira particular de construir 1.300 apartamentos em Toledo, depois que as escavações revelaram uma cidade visigótica. O local, com 85 hectares, é hoje protegido e planeja-se transformá-lo em museu e centro de pesquisa.

Toledo não é, nem de longe, a primeira cidade a enfrentar controvérsias envolvendo sepulturas judaicas na Europa, onde preservacionistas têm combatido exumações de Praga a Vilnius, na Lituânia. Os restos mortais de mais de 150 pessoas foram exumados de um cemitério medieval em Tarrega, região da Catalunha, há dois anos, e re-enterrados num cemitério de Barcelona.

Por outro lado, as notícias não são sempre negativas: em maio, o governo regional da Catalunha declarou o cemitério judeu em Mont Juic, em Barcelona, patrimônio cultural.

Levinsohn disse que a federação procuraria assinar protocolos com os 17 governos regionais da Espanha para melhor proteger os cemitérios judaicos. Segundo a lei espanhola, quando restos humanos antigos são descobertos, eles são exumados e armazenados para estudos arqueológicos. Judeus preservacionistas disseram que a Espanha também deveria identificar e mapear o que líderes judeus acreditam se tratar de centenas de cemitérios não-identificados.

Para Stoleru, a questão das sepulturas judaicas levanta questões sobre como a Espanha moderna e laica se reconcilia com capítulos obscuros de sua história, como a expulsão e conversão forçada de milhares de judeus e muçulmanos durante a Inquisição.

"Precisamos refletir muito mais profundamente sobre a expulsão e usar a história para basear nossas ações diárias", disse ele. "O legado judaico na Espanha não deveria ser uma peça de museu. Deve ser uma ferramenta para o ensino da tolerância e da diversidade."

Fonte: http://g1.globo.com/Noticias/Mundo/0,,MUL1239952-5602,00.html

Original em inglês: http://www.nytimes.com/2009/07/02/world/europe/02toledo.html?_r=2&scp=5&sq=cemetery&st=nyt

Outra versão em português:

http://ultimosegundo.ig.com.br/new_york_times/2009/07/02/escola+construida+sobre+cemiterio+oferece+valiosa+licao+de+historia+7077941.html

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Porque o defunto deixou a igreja: Origem dos cemitérios no século XVII

Aconteceu no mundo inteiro, um fenômeno curioso no final do século XVII. Por medida sanitária os sepultamentos passam a realizar-se em área aberta, nos chamados campos-santos ou cemitérios secularizados.


Túmulo do compositor Fréderic Chopin (1810-1849), no Cemitério Père-Lachaise de Paris, decorado com uma estátua da musa da música chorando, obra do escultor Auguste Clésinger, retratado em cartão postal do início do século XX. Imagem disponível no site http://www.bellecpa.com/cpa_paris/cpa_pere_lachaise.html?page=1 em 06/10/2009.


Por Beatrix Algrave
Postado em 12/11/2008 na
"Página da Beatrix: Arte, Cultura e Educação."


Isto já não era novidade, japoneses, chineses, judeus e outros povos já traziam tradicionalizada a inumação a “céu aberto”. Os protestantes também, em muitos países o faziam. A mudança afetou principalmente os povos de predominância católica. No Brasil o enterro fora da igreja era reservado aos não-católicos, protestantes, judeus, muçulmanos, escravos e condenados, até que, por lei, inspirada na correlação que se fez entre a transmissão de doenças através dos miasmas concentrados nas naves e criptas das igrejas, se instalaram os campos de sepultamento ensolarados.


Esta a morte perfeita, nem lembranças, nem saudade, nem o nome sequer. Nem isso…
Lygia Telles (Venha ver o pôr-do-sol)


Um outro motivo, que embora não diga respeito a realidade brasileira merece ser citado, diz respeito a laicização do Estado e sua separação da Igreja. Um exemplo digno de nota é o caso do Pére Lachaise de Paris que, apesar de receber o nome de um padre católico, abriga tanto pessoas de várias religiões quanto não-religiosos, sendo um dos dos primeiros cemitérios laicos e também um dos mais famosos do mundo.

Portão de entrada do Cemitério Père-Lachaise de Paris, em 1909, conhecida como a Porta de "La Dhuis" na Avenida Père-Lachaise. No centro, ao fundo, detalhe da cúpula e chaminés do forno crematório. Cartão Postal do início do século XX. Imagem disponível no site http://www.bellecpa.com/cpa_paris/cpa_pere_lachaise.html?page=1 em 06/10/2009.

A urbanização acelerada e o crescimento das cidades é também uma importante razão para a criação dos cemitérios coletivos a céu aberto, visto que o crescimento populacional desenfreado não permitia mais o sepultamento em capelas e igrejas, que já não comportavam o aumento da demanda.

Numa primeira impressão o fato parece ter explicação simples, mas quando se atenta para o resultado ocorrido, sobre mais de um século, estudando-se o fantástico derrame de fortunas nas construções tumulárias pomposas, dos abastados de cada cidade, quando se verifica a diferença de comportamento entre a sepultura de igreja e a de construção livre arbitrada pela fantasia do usuário, e também quando se considera a história social e cultural do mesmo período, então se percebem outras razões no fenômeno. Não foi somente uma questão do ponto de vista higiênico, ou seja, uma razão metade prática e metade científica (e também política e social), da sociedade oitocentista. Se esta mudança acontecesse apenas por esse motivo, os cemitérios católicos em descampados teriam permanecido sóbrios e padronizados do mesmo modo que os erigidos por irmandades em mausoléus coletivos, ou como os de outras religiões.

A simplicidade dos padrões tradicionais e primitivos continuou caracterizando a sepultura coletiva enquanto o fausto e a arrogância da tumulária individual se desenvolveu espantosamente.

Portanto, a verdadeira razão da grande mudança de atitude e gosto, já existia há longos tempos no anseio de monumentalizar-se perante a comunidade. Era, e sempre foi, o desejo dos mais abastados, distinguir-se através de uma marca perene, de um objeto de consagração - o túmulo - pela atração de compara-se aos grandes personagens da história, sem a menor cerimônia, incluindo nesta leva os soberanos, os faraós, os reis, os papas e os príncipes, que mereceram sepulcros diferenciados dos demais.

Há de fato túmulos monumentais de papas de acordo com a pompa de cada época, contudo sempre integrados à construção da igreja. Há papas que não restaram por virtudes, e sim pela eventualidade do valor artístico, ou monumental de seus túmulos. De qualquer modo, erigia-se a igreja como bem público, integrada ao uso coletivo, e nela se fazia a sepultura do seu doador e benfeitor…

Entretanto em muitas igrejas, originalmente levantadas para serem o jazigo do doador, este descansa sob uma lápide que nem perturba o nível do chão.


Túmulos de Eloísa e Abelardo no Cemitério Père-Lachaise de Paris, retratados em cartão postal do início do século XX. Os célebres amantes do século XII ajudaram a promover o cemitério quando seus túmulos foram transferidos para lá em 1817. Imagem disponível no site http://www.bellecpa.com/cpa_paris/cpa_pere_lachaise.html?page=1 em 06/10/2009.

A arte tumulária varia com a data, acompanha cada estilo de época, e de região, e jamais sonega o caráter, a espiritualidade do meio em que ocorre. Sob tal prisma, isto é, tomando-se a arte tumulária como representativa desses atributos, podemos entender as estruturas sociais e culturais dos meios, mesmo quando tal se acha restrita a uma parcela da população. Aliás, tal restrição relaciona-se diretamente com o tipo de economia da sociedade, estando deste modo a arte cemiterial condicionada a fatores de caráter sociológico, econômico e cultural.


BIBLIOGRAFIA CONSULTADA


FORGANES, Rosely. Os mortos que nunca descansam. In: Caminhos da Terra: Azul, Março de 1998, Ano 07, nº3, Edição 71, p. 66-71.

LANGALDE, Vincent de. Ésoterisme, Médiuns, Spirites du Père Lachaise. Paris: Vermet, Collection Cemetières de Paris et d’ailleurs, 1990.

SCAVONE, Míriam. Surpresas de bronze e mármore. In: Veja SP : Abril, 30 de out., 1996. p. 12-19.

VALLADARES, Clarival do Prado. Arte e Sociedade nos Cemitérios Brasileiros. Brasília: MEC-RJ, 1972.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Sítio arqueológico na Colômbia pode ter mais de mil tumbas

Cemitério indígena tem cerca de 1.500 anos, estimam os arqueólogos. Ruínas foram descobertas por acaso, durante uma obra.


Da Globo.com, no Rio
22/04/08 - 01h15


Estudantes da Universidade Nacional da Colômbia fazem escavações em um cemitério indígena em Usme na segunda-feira (21). Especialistas estimam que o sítio arqueológico guarde mais de mil tumbas. (Foto: Reuters/John Vizcaino)




O sítio arqueológico de Usme, ao sul de Bogotá, tem cerca de 1.500 anos. Ele foi descoberto por acaso, durante uma obra. (Foto: Reuters/John Vizcaino)


Fonte: http://g1.globo.com/Noticias/Ciencia/0,,MUL420300-5603,00-SITIO+ARQUEOLOGICO+NA+COLOMBIA+PODE+TER+MAIS+DE+MIL+TUMBAS.html

Veja também (vídeo com imagens das escavações no UOL Notícias em 23/04/2008):

Cemitério indígena com 1.500 tumbas é descoberto na Colômbia

O achado aconteceu em um terreno que seria utilizado para subir casas populares em Usme, município localizado ao sul da capital Bogotá. Veja na reportagem da agência EFE.

http://mais.uol.com.br/view/1575mnadmj5c/cemiterio-indigena-com-1500-tumbas-e-descoberto-na-colombia-040268E49963C6?types=A&

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Cemitério dos Aflitos e seus mistérios

Poucos sabem, mas o atual bairro da Liberdade abrigou o primeiro cemitério da cidade de São Paulo, criado em 1774, para abrigar os pobres, condenados, indigentes e não–católicos da cidade. Os ricos eram enterrados dentro das igrejas ou em volta delas.

Capela dos Aflitos (Herman Graeser/Sphan, 1939).


Por Nelson Jaime
Postado no http://sobrenatural.org em 17/08/2009.



Próximo a ele, onde é a atual Praça da Liberdade ficava a forca da cidade de São Paulo, lá eram executados escravos fugitivos e condenados por crimes para exemplo aos demais, aconteceu lá o enforcamento do soldado Francisco José das Chagas, o "Chaguinha".


O Chaguinha foi condenado ao enforcamento pelo governo. Em sua execução, no Largo da Forca, a corda rompeu duas vezes, o público que assistia atribuiu isso como "milagre", e gritaram "Liberdade". Ao contrário da vontade do povo, o governo executou novamente Chaguinha. Populares dizem que o nome dado ao bairro da liberdade faz menção ao grito do povo de liberdade para Chaguinha.

Em 1779 o governo da província mandou construir dentro do cemitério a capela dos aflitos, sendo a capela do cemitério dos Aflitos.


Em 1858 com a construção do cemitério da Consolação o governo ordenou o fechamento do cemitério dos Aflitos, há poucos registros encontrados da retirada das ossadas, o que nos dá a entender que ainda podem estar enterrados ali os restos mortais dos ali sepultados inclusive “Chaguinha” .

Posteriormente ao fechamento do cemitério o mesmo foi incorporado no loteamento e a renda com o terreno foi convertida na construção da nova Santa Sé da cidade.

Detalhe do bairro da Liberdade em 1847. No destaque, em verde, a área do antigo cemitério dos Aflitos ainda sem o beco. A antiga Rua da Santa Casa, como aparece no mapa, é a atual Rua da Glória. A grande área aberta mais abaixo corresponde à atual Praça da Liberdade. Parte da Planta da cidade de São Paulo e seus subúrbios, de C. A. Bresser, ca. 1847. (São Paulo antigo plantas da cidade. Prefeitura de São Paulo, Comissão do IV Centenário, 1954).


A capela dos Aflitos existe até hoje no Beco dos Aflitos, muito escondida entre os prédios construídos atuais, lá populares fazem pedidos a Chaguinha o que o tornou um santo popular da cidade.


Capela dos Aflitos Hoje [2009].


No atual largo da Liberdade existe a Igreja da Santa Cruz dos enforcados, em homenagem aos que foram enforcados onde hoje está a igreja, no altar existe uma cruz de madeira da cor preta, contam que essa cruz pertencia ao antigo cemitério que era muito próximo onde hoje fica essa igreja.


Dizem que as atuais ruas onde ficam o cemitério hoje em dia são assombradas na madrugada pelos espíritos que ali foram sepultados.

Fonte:http://sobrenatural.org/materia/detalhar/8898/cemiterio_dos_aflitos_e_seus_misterios/


sábado, 19 de setembro de 2009

Túmulos de 4.300 anos são encontrados no norte do Egito

Pirâmide Djoser, na necrópole de Saqqara, onde os túmulos foram encontrados. Foto: JANUSZ RECLAW.

Por Graziella Beting*
Revista História Viva, ed. 65, [10 de] Março de 2009
Saqqara, no Egito, é um complexo funerário mais antigo que as famosas pirâmides de Gizé. Essa imensa necrópole, ligada à antiga capital, Mênfis, foi utilizada ao longo de toda a história do Egito Antigo, até a época romana. A área vem sendo escavada há mais de 150 anos, e recentemente arqueólogos encontraram duas tumbas de 4.300 anos, datando do reinado do faraó Unas, último soberano da 5ª dinastia.


As tumbas estão a mais de 400 metros a sudoeste da pirâmide de Djoser, a mais antiga do Egito (cerca de 2700 a.C.). Essa região nunca tinha sido explorada, por se considerar que o cemitério não seguia até lá. O achado, anunciado pelo Conselho Superior das Antigüidades Egípcias, indica que a necrópole é maior que se imaginava, e que provavelmente ainda há muito a ser descoberto na região.


Segundo o arqueólogo-chefe do conselho, Zaki Hawass, acredita-se que apenas 30% dos monumentos egípcios foram descobertos. O resto continua coberto pela areia.
*Graziella Beting é jornalista e tradutora

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Grã-Bretanha: Cemitério de 2 mil anos é achado durante obras para Olimpíada de 2012

Arqueólogos britânicos descobriram uma vala comum de cerca de 2 mil anos em um trecho de uma estrada que está sendo construída para os Jogos Olímpicos de 2012, que serão realizados em Londres.

Vala comum estava perto de estrada sendo construída para Olimpíada de Londres. [Na foto] Crânios em sítio arqueológico em Dorset (Foto: Condado de Dorset/Divulgação)


Por BBC Brasil
Atualizado em 15 de junho, 2009 - 04:57 (Brasília) 07:57 GMT


A descoberta ainda surpreendeu os cientistas pelo fato de os esqueletos terem sido encontrados decapitados e desmembrados.

"Até o momento, contamos 45 crânios encontrados em um canto da vala, e vários troncos e ossos de pernas espalhados pelo local", disse David Score, gerente de projetos da Oxford Archaeology, responsável por acompanhar a construção da estrada.

"É raro encontrar cemitérios arqueológicos desse tipo, pois normalmente os corpos estão alinhados."
'Catástrofe'
Segundo Score, sua equipe ainda está recuperando os esqueletos e os levando para análise em Oxford.

"Ainda é muito cedo para tirar conclusões, mas os crânios parecem ser predominantemente de homens jovens", afirmou.

"Não sabemos ainda como ou por que os restos mortais foram depositados neste local, mas é muito provável que tenha ocorrido algum evento catastrófico, como uma guerra, uma epidemia ou uma execução.
Os cientistas estimam que a vala tenha sido aberta em algum momento entre o final da Idade do Ferro e o início da invasão romana no território britânico, no século 1.
A estrada onde foi realizada a descoberta arqueológica está sendo construída para facilitar o trânsito na região de Weymouth e Portland, no condado de Dorset, que sediarão as provas de iatismo dos Jogos Olímpicos de 2012.
A administração do condado pediu para que a população não se aproxime do local para não atrapalhar o trabalho dos arqueólogos nem atrasar as obras da estrada.
Após analisadas, as peças encontradas deverão ser expostas ao público em um museu da região.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Sítio arqueológico milenar é descoberto durante construção de escola no Amapá

Mais de cem peças de cerâmica foram encontradas em Laranjal do Jari. Material pertencia a cemitério indígena, afirma pesquisador.
Por Iberê Thenório
Do Globo Amazônia, em São Paulo
01/07/09 - 12h47 - Atualizado em 01/07/09 - 14h04


O que seria uma simples terraplanagem para construir uma escola se transformou em descoberta científica em Laranjal do Jari, no Amapá. Durante a construção de uma escola na periferia da cidade, trabalhadores encontraram um cemitério indígena com dezenas de peças de cerâmica que podem ter mais de mil anos.

Descoberta de cemitério milenar aconteceu durante terraplanagem para construção de escola na periferia de Laranjal do Jari (AP). (Foto: Gerência de Pesquisa Arqueológica - IEPA/Divulgação)

Logo após a descoberta, o arqueólogo João Saldanha foi chamado para fazer o resgate do material. “Era um grande sítio arqueológico, que tinha muito material. Havia 50 urnas [funerárias], e contabilizamos em torno de cem peças [de cerâmica] inteiras”, conta o cientista, que trabalha para o Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá (Iepa). Cada urna funerária encontrada é formada por vários vasos diferentes.

Arqueólogo Pedro Saldanha foi chamado para resgatar peças de cerâmica. (Foto: Gerência de Pesquisa Arqueológica - IEPA/Divulgação)

Segundo Saldanha, os desenhos gravados na cerâmica indicam a presença de um povo que ocupou também a Guiana Francesa e o Suriname há cerca de 1.200 anos. “Há pinturas de formas humanas e de animais. Uma grande aldeia, intensamente ocupada, existia ali”.

Parem as máquinas

Desde a descoberta, ocorrida em maio, a construção da escola está parada. Saldanha terminou as escavações em 20 de junho, e imagina que em breve a obra poderá continuar, pois todas as peças que estavam sob a construção foram resgatadas.

Cada urna funerária é formada por diversos vasos. No total, 50 conjuntos foram encontrados. (Foto: Gerência de Pesquisa Arqueológica - IEPA/Divulgação)


O restante do sítio arqueológico, que está fora da área da construção, será explorado mais tarde, segundo o pesquisador. “A ideia é que possamos fazer um sítio-escola, uma escavação para que os alunos aprendam como se trabalha a arqueologia”, explica.