A morte nos faz cair em seu alçapão, / É uma mão que nos agarra / E nunca mais nos solta. / A morte para todos faz capa escura, / E faz da terra uma toalha; / Sem distinção ela nos serve, / Põe os segredos a descoberto, / A morte liberta o escravo, / A morte submete rei e papa / E paga a cada um seu salário, / E devolve ao pobre o que ele perde / E toma do rico o que ele abocanha.
(Hélinand de Froidmont. Os Versos da Morte. Poema do século XII. São Paulo : Ateliê Editorial / Editora Imaginário, 1996. 50, vv. 361-372)

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Blumenau (SC) - Cemitérios da Vila Itoupava são inventariados


Vista panorâmica do Cemitério de Vila Itoupava, Blumenau (SC), 07/11/2010. Imagem disponível em: http://interditus.wordpress.com/


Por MORGANA MICHELS. Artigo publicado na edição de 13/11/2010 N° 12096 do JORNAL SANTA CATARINA de Blumenau (SC) na Seção: HISTÓRIAEspecial/Santa


BLUMENAU - Preservar o patrimônio histórico é fundamental para que a comunidade estabeleça uma relação com sua história. Com base neste princípio, o Fundo Municipal de Cultura e a Fundação Cultural promovem um inventariamento dos cemitérios da Vila Itoupava. O projeto Lugares de Antepassados, Lugares de História: inventário de cemitérios de imigrantes em Vila Itoupava, prevê o levantamento das características dos túmulos, por meio de imagens e descrição, para que sejam feitas ações em prol da preservação deste patrimônio funerário. Inicialmente, o trabalho permitirá o conhecimento das características dos bens culturais e estado de conservação. O próximo passo será o tombamento e as restaurações.

O inventário começou este mês com o levantamento do Cemitério do Centro e a previsão de encerramento é para março de 2011, quando mais cinco cemitérios serão registrados. Segundo a diretora do Departamento Histórico Museológico de Blumenau, Sueli Petry, o conhecimento dos bens imateriais servirá como relevante registro da cultura e poderá fomentar o uso destes espaços como rotas culturais. Nestes cemitérios estão famílias que participaram da história da cidade e também estão retratadas as diversas classes sociais que podem ser vistas nas edificações tumulares:

– Os cemitérios não são mais locais de sentimentos de perda, mas espaços nobres que merecem visitação.

A historiadora e coordenadora do Grupo de Estudos Cemiteriais de SC e do inventário dos Cemitérios da Vila Itoupava, Elisiana Trilha Castro, acrescenta que este levantamento pretende acompanhar as mudanças dos usos e costumes funerários e levantar elementos da religiosidade e da formação da cidade. Para ela, os cemitérios são arquivos da memória familiar e local. Após o inventário da Vila Itoupava, a intenção do grupo liderado por Elisiana, mestre em Arquitetura e Urbanismo (UFSC) e doutoranda em História (UFSC), é estender o trabalho para outros bairros.


Membros da equipe do Grupo Interditus realizando levantamento do primeiro cemitério do Inventário de Vila Itoupava (Blumenau), 07/11/2010. Imagem disponível em: http://elisianacastro.wordpress.com/


PRIMEIRAS DESCOBERTAS


No levantamento do Cemitério do Centro, o primeiro a passar pelo inventário na Vila Itoupava, já foram encontradas características relacionadas com os cemitérios de comunidades teuto-brasileiras (de influência germânica). Eles apresentam elementos da postura funerária encontradas em áreas de imigração alemã, como poucas imagens de santos e alegorias, o uso de epitáfios em alemão, a inscrição do sobrenome de solteira em sepultamentos femininos e poucos mausoléus.
Veja também:
Blog Pesquisas Cemiteriais:
Interditus's Blog:

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Goiás: Por falta de recursos - cemitérios irregulares são comuns em núcleos rurais

Em núcleos rurais de território goiano, é comum encontrar ossadas enterradas desde o século passado. Escassez de recursos e de médicos que emitissem atestados de óbito estão entre as causas que determinaram o costume.

Por Mara Puljiz. Artigo publicado originalmente no Correio Braziliense - 26/09/2010 - Seção Cidades - Cemitérios Irregulares. Publicação: 26/09/2010 08:43 Atualização: 26/09/2010 09:36. http://www.correiobraziliense.com.br/



Manhã ensolarada de 22 de agosto de 1967. Em um pedaço de terra da Fazenda Savana, em Tabatinga, zona rural de Planaltina, era enterrado o último morto na região. Tratava-se do famoso José Jonas Monteiro, então dono de boa parte das propriedades. O fazendeiro morreu aos 63 anos, vítima do mal de Chagas, adquirido pela picada de um barbeiro, inseto transmissor da doença. José Jonas foi velado pelos familiares e levado no dia seguinte para a cova, aberta por um parente que tinha corrido na frente do cortejo. Ele descansa em um quadrado de terra batida, à beira de uma estrada de chão, ao lado de pelo menos outros 20 lavradores e fazendeiros que habitavam o local muito antes da inauguração de Brasília, em 1960.

Cemitérios como esse são facilmente encontrados em inúmeras propriedades espalhadas pelos núcleos rurais próximos. Moradores mais antigos revelaram à reportagem do Correio a existência de pelo menos seis deles em fazendas distantes umas das outras. A área, antigamente, pertencia ao município de Formosa (GO), e depois passou a fazer parte de Planaltina do DF. Entre os moradores mais antigos da região, está o lavrador aposentado Joaquim Augusto Vieira, 89 anos, conhecido como Nego Totó. Segundo ele, a pessoa que morria era levada “na cacunda” para o cemitério ou ainda transportada em carroças puxadas por cavalos ou carros de boi.

O dia do sepultamento de José Jonas foi marcado por muita tristeza. Bastante apegado ao pai, Antônio Wilson Monteiro, 63 anos, preferiu ter a imagem dele vivo em sua memória. “Tinha muita gente e eu não fui”, contou. Por sorte, um médico atestou a causa de sua morte, mas naquele tempo, a família ainda não recebia atestado de óbito do ente querido. Não havia naquela época alguém que oficializasse a morte de uma pessoa. Os médicos eram escassos e, para ter acesso a eles, a população precisava percorrer vários quilômetros em trilhas de terra e mato. A viagem podia demorar dias. Quando alguém acordava sem respiração, sem os batimentos e com os olhos esbugalhados, todos tinham a certeza de que não estava mais vivo. “A gente sabia que a pessoa tinha morrido porque depois de uma hora a feição dela já mudava”, relatou Nego Totó.

Primeiros registros
A certidão de óbito só passou a ser fornecida pelo Instituto Médico Legal (IML), no Parque da Cidade, em 1957, quando foram feitos em Brasília os primeiros registros de atividades médico-legais. Nessa época, um laudo de necropsia estava reduzido a meras informações de idade, causa da morte, data e local do óbito. A primeira vítima foi Benedito Xavier da Silva, 45 anos, que morreu em 20 de abril de 1957 no Acampamento do Guará de colapso cardíaco. Benedito foi sepultado em Formosa, mas os procedimentos legais eram feitos em Planaltina ou Luziânia, onde a maioria dos cadáveres eram sepultados. Até 1957, os mortos encontrados além do Córrego Vicente Pires (Núcleo Bandeirante) eram levados para Luziânia (GO) e os do lado do Plano Piloto seguiam para Planaltina, uma vez que ainda não havia polícia judiciária no que seria o DF. “A pessoa morria e não tinha documentação que comprovasse o desaparecimento dela. Morria e ficava por isso mesmo. Era menos um e o enterro ia da valsa (conforme os costumes) de cada um”, contou Antônio Wilson.

Moradores mais distantes que quisessem enterrar algum familiar no cemitério precisavam atravessar o Córrego Jardim. Eles ainda tinham o cuidado de enrolar o cadáver em um pano e fixar tábuas de madeira no fundo, laterais e tampa da cova, para que o corpo não fosse devorado por tatus-canastra.

Tatu-canastra
É o gigante dos tatus e vive em pequenos bandos. É o maior e mais raro dos exemplares vivos dessa espécie, e só ataca quando é inevitável. O tatu-canastra chega a 1,5m do focinho à cauda e pesa 60kg. Esses animais costumam ser comuns em cemitérios por se alimentarem de larvas e animais em decomposição, mas estão ameaçados de extinção.

Personagem da notícia
Nego Totó

Prestes a completar nove décadas de vida, o homem de cabelos brancos, barba bem aparada e olhar firme ainda demonstra lucidez ao falar de seus antepassados. Filho da terra em que habita, Joaquim, ou melhor, Nego Totó, nasceu em uma propriedade de Tabatinga, onde foi criado e vive até hoje. Ele lembra que enterrou pelo menos quatro parentes, entre tios e primos, na região. José Jonas era um primo e foi um deles. Nego Totó foi quem se encarregou de abrir a cova e protegê-la com tábuas para que os tatus não comessem os restos mortais depositados no túmulo. O veterano da zona rural conta que Tabatinga na verdade se chamava Fazenda Vaz e tinha não mais que uma centena de habitantes, que foram ocupando o espaço pouco a pouco. Mulheres grávidas daquela época tinham medo de dar à luz porque, como não havia médicos, muitas morriam durante o parto. “Quando uma grávida morria, a gente corria para enterrar e não contava para ninguém, porque senão as outras mulheres ficavam assustadas e não queriam mais engravidar”, contou Joaquim. Quem era picado por cobra venenosa rezava para sobreviver. O único tratamento para todas as doenças era à base de chá de raízes (MP).


Da roça para o culto aos mortos

Sempre no Dia de Finados, em 2 de novembro, os parentes largam o serviço na roça e saem de casa para acender velas e fazer oração em cima do que restou de cada túmulo. No ano em que o pai morreu, Antônio Wilson resolveu fazer a lápide de cimento para que ficasse marcado o local exato onde ele foi sepultado. A medida deu certo, pois as cruzes de madeira fincadas no cemitério se perderam com o tempo e alguns restos de madeira podre estão encobertos pela terra e pelo mato. Os corpos estão em um terreno que foi desapropriado e passou a ser particular.

Passados 43 anos do último sepultamento, o dono da propriedade e os funcionários decidiram não retirar as cruzes do local e não usá-lo para plantio. “A gente respeita a família. Se eles quiserem cercar o cemitério e cuidar direitinho, podem ficar à vontade”, garantiu o caseiro José Divino de Jesus, 40 anos, morador da região há cerca de 20. “Chega o Dia de Finados e vou lá colocar velas para os mortos”, disse a mulher dele, Vera Pinto Melo de Jesus, 36.

Além do pai, a avó de Antônio Wilson, Maria Augusta Monteiro, também foi enterrada ali, em 1953. Até o fim do ano, ele quer obter autorização para remover a ossada e levar para o Cemitério de Planaltina, no Setor Sul, onde a mãe dele foi enterrada. “Quero colocar todo mundo da família junto”, disse ele.


Grupo de pesquisadores estuda áreas de sepultamento

A origem dos cemitérios rurais ainda é pouco conhecida. Embora seja um assunto que causa medo em muita gente, um grupo de 25 pesquisadores brasileiros se dedica a estudar cemitérios espalhados por todo o mundo. São historiadores, geógrafos, profissionais do turismo, arqueólogos, antropólogos e fotógrafos que integram a Associação Brasileira de Estudos Cemiteriais (Abec), criada em 2004 com o objetivo de agrupar pessoas que tenham interesse em pesquisar o cemitério como lugar de memória, de produção artística e de patrimônio cultural. Eles promovem encontros bianuais para trocar experiências de abordagens diferentes sobre o tema. Segundo a presidenta da associação, Maria Elízia Borges, no Brasil, pouco se sabe até hoje sobre os cemitérios rurais. “Sabemos que são muitos espalhados pelas fazendas no interior, mas ainda faltam pesquisadores”, admitiu.

A maior dificuldade dos pesquisadores é encontrar as fazendas onde os mortos eram enterrados, uma vez que nem todos foram cadastrados pelas prefeituras e acabaram sendo esquecidos. Também não há registros de lápides antigas e de como as tumbas eram feitas. Com isso, boa parte da história foi enterrada junto. Muitas cruzes que identificam a presença das ossadas humanas se perderam em meio ao mato ou afundaram na terra. Passadas centenas de anos, muitas famílias naturalmente abandonaram do local de sepultamento.

De acordo com Maria Elízia, que também é professora de história da arte na Faculdade de Artes Visuais da Universidade Federal de Goiás (UFG), são comuns os cemitérios nas região de Goiás, em algumas regiões do interior onde antigamente escravos e patrões eram enterrados na mesma terra. “Antigamente era tradição e as pessoas tinham o prazer de serem enterradas na própria fazenda”, informou. O cemitério público surgiu no século 19, mas o rural continuou existindo da mesma forma diante dos costumes e das condições de transporte para os locais apropriados, que eram muito difíceis. Até hoje, não existe levantamento das propriedades onde há gente morta. “Infelizmente ainda somos muito poucos pesquisadores, mas o cemitério é um lugar de memória da cidade e é importante ser registrado. Muito mais que isso, significa reconstruir a memória do cidadão”, avalia Maria Elízia.

Cruz no morro
A produtora rural Elzir da Cunha Leão Falqueto, 41 anos, pouco sabe da história da avó Selvina Xavier de Almeida. Ela morreu no mesmo ano que Elzir ainda estava no ventre de sua mãe, em 1968. Foi enrolada em uma rede de pano e enterrada em uma área que antigamente pertencia ao Núcleo Rural Cooperbrás, mas passou anos depois a fazer parte de Tabatinga. No cemitério, ela foi informada que apenas a ossada de duas pessoas está debaixo do terreno, localizado ao lado de uma torre de telefonia. Na última terça-feira, Elzir levou a reportagem ao local onde Selvina está sepultada. Para chegar, é preciso caminhar em meio ao capim seco. Dois técnicos cuidavam da manutenção da torre de telefonia e ficaram assustados em saber que a poucos metros havia gente enterrada. “Nem sabia. Vou ler a história no jornal”, disse um deles.

Passados 42 anos, a cruz e as pedras colocadas ao redor do túmulo ainda permanecem no lugar. Mesmo sem ter conhecido a avó, em todo Finados a neta acende uma vela em cima do túmulo. Antes de ir embora, Elzir e seu filho, Arthur Alcino Leão Falqueto, 15 anos, rezaram juntos um Pai-Nosso em memória de dona Selvina.

Fonte:http://www.mp.go.gov.br/portalweb/conteudo.jsp?page=1&pageLink=1&conteudo=noticia/075064a32ec292818d4b14e5987c1a68.html

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Linhares (ES): Os mistérios do “Cemitério Morro dos Anjos” no balneário de Pontal do Ipiranga

Cemitério de crianças, localizado em meio à vegetação, em uma duna da restinga do balneário, recebe sepultamentos desde 1915.


"Portão" de entrada do Cemitério Morro dos Anjos em Pontal do Ipiranga, Linhares (ES). Imagem disponível em: http://www.pontaldoipiranga.fozdoriodoce.com.br/fotos.asp?id=22

O balneário de Pontal do Ipiranga localiza-se no norte do estado do Espírito Santo e fica a 53 km a leste da cidade de Linhares da qual é distrito.
Apesar da ocupação urbana no Pontal ser recente (iniciada por volta de 1982), a presença de moradores na região é bem mais antiga.

Segundo o artesão Victor Roque Pancieri, autor da foto acima: "O ritual é feito pela praia e geralmente são outras crianças que levam o caixão e a cruz até o local (...)". Imagem disponível em: http://seminariandocomarte.blogspot.com/2009/06/atividade-12-cultura-local_30.html

O singular e curioso CEMITÉRIO MORRO DOS ANJOS surgiu por volta de 1915 quando ali, na mais alta duna da restinga, foi enterrada uma criança do sexo masculino, filho de Francisca e Manoel Januário. Desde então, o local passou a ser utilizado para sepultamento de crianças ou “inocentes” como se costuma dizer. São crianças que nasceram mortas ou morreram nos primeiros meses ou anos de vida, e que não teriam sido batizadas, os “anjinhos”.

Crianças visitando o Cemitério Morro dos Anjos. Foto de Victor Roque Pancieri, 2009. Imagem disponível em: http://seminariandocomarte.blogspot.com/2009/06/atividade-12-cultura-local_30.html

Ainda hoje ocorrem sepultamentos no local que é demarcado com dezenas de cruzes que identificam as sepulturas dos “anjos” que já seriam mais de uma centena. E, como é natural nesses casos, o local também possui inúmeras lendas e mistérios que vão desde uma igreja desaparecida a várias “visagens” das alminhas penadas.

Por tudo isso e pela sua beleza singular, completamente integrado à vegetação de restinga, o CEMITÉRIO MORRO DOS ANJOS é um dos mais curiosos no norte do estado do Espírito Santo.

Vista do Cemitério dos Anjos em meio a vegetação de restinga. Foto Victor Roque Pancieri, 2009. Imagem disponível em: http://seminariandocomarte.blogspot.com/2009/06/atividade-12-cultura-local_30.html

Chamo a atenção para assistirem a reportagem no link abaixo, produzida em 2009, pelo repórter Douglas Camargo para o programa Balanço Geral da TV Vitória – afiliada da Rede Record no estado do Espírito Santo.

http://www.youtube.com/watch?v=zX3vO_ma594&feature=player_embedded

Veja também:

http://seminariandocomarte.blogspot.com/2009/06/atividade-12-cultura-local_30.html

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Baía Formosa (RN): Corpos são transferidos de cemitério histórico

Emoção. Esse foi o sentimento que marcou a cerimônia de remoção dos restos mortais dos 170 corpos que estavam enterrados no cemitério de Baía Formosa, na manhã de ontem. Dezenas de famílias compareceram ao local para prestar homenagem aos seus entes queridos, muitos deles falecidos e enterrados há mais de um século.

O local funcionava como cemitério desde 1612 e abrigou sepultamentos dos que faleceram na região até 1980. A área de 20,5 hectares, adquirida em 2004, também contempla o Cemitério da Praia. (Foto: Júnior Santos/ Tribuna do Norte/ AE). Imagem disponível em: http://g1.globo.com/brasil/noticia/2010/09/caixoes-sao-transferidos-apos-desativacao-de-cemiterio-no-rn.html
Da seção de notícias do jornal Tribuna do Norte, de Natal, no Rio Grande do Norte, artigo publicado em 19/09/2010 às 00:00. Disponível em: http://www.tribunadonorte.com.br

Segundo populares, o Cemitério da Praia de Santa Cruz das Areias foi construído logo após a fundação da vila de pescadores, em 1612. Os funerais eram realizados próximos a praia. Era preciso esperar que a maré baixasse para dá passagem ao cortejo. Como não havia caixões, os corpos eram levados e transportados em redes.

“Estou muito emocionada porque o corpo do meu tio estava enterrado aqui. Já faz tanto tempo que nem sei mais onde local exato do sepultamento. Como não encontrei as ossadas vou levar um pouco de areia do cemitério para representar o corpo dele que foi um homem tão bom”, disse a aposentada Maria Duarte Ribeiro, de 68 anos.

Desocupação do cemitério da praia de Santa Cruz das Areias, em Baía Formosa. (Foto: Júnior Santos/ Tribuna do Norte/ AE). Imagem disponível em:http://www.tribunadonorte.com.br/noticia/comeca-remocao-de-corpos-do-cemiterio-de-baia-formosa/160076

Um ato ecumênico, celebrado por um pastor da Assembleia de Deus e por um padre da Igreja Católica marcou o início da remoção dos restos mortais.

“Tenho um irmão e um avô enterrado aqui e o sonho da minha mãe era poder levá-los para outro cemitério porque esse é muito distante da cidade e com o acesso ruim. Nós não tínhamos condições de para por isso, da uma vez que soube custava uns R$100,00. Hoje eu estou muito feliz por está realizando o sonho da minha mãe, que também já morreu”, disse a funcionária pública Márcia Regina da Costa.

A remoção dos restos mortais foi autorizada depois de uma longa tramitação, que começou em 2004 quando o então prefeito vendeu um terreno de 20,5 hectares, onde está localizado o cemitério, para o grupo B.F Investimentos Turísticos e Imobiliários LTDA.

Em 2005 foi autorizada a desocupação do terreno, mas não foi possível em virtude de problemas administrativos.

No ano passado durante uma audiência pública, as famílias autorizaram a retiradas dos restos mortais de seus parentes. A nova morada dos 170 mortos -enterrados até 1980 quando foi proibido o sepultamento no antigo cemitério – é o Cemitério Parque construído pela Prefeitura de Baía Formosa.


O Cemitério da Praia Santa Cruz das Areias, em Baia Formosa, no Rio Grande do Norte, precisou ser desativado neste sábado (18/09) por conta da reinvidicação de novos proprietários. No total, ossos de 170 túmulos são transferidos para o Cemitério Jardim. (Foto: Júnior Santos/ Tribuna do Norte/ AE) Imagem disponível em: http://g1.globo.com/brasil/noticia/2010/09/caixoes-sao-transferidos-apos-desativacao-de-cemiterio-no-rn.html

“Cada uma das famílias receberam um jazigo com duas gavetas cada um. O cemitério tem capacidade para mais de 170 corpos. A Prefeitura gastou cerca de R$70 mil e o grupo português também ajudou na construção”, disse o prefeito Nivaldo Melo.

Fonte:http://www.tribunadonorte.com.br/noticia/corpos-sao-transferidos-de-cemiterio-historico/160115

Veja também:

http://g1.globo.com/brasil/noticia/2010/09/caixoes-sao-transferidos-apos-desativacao-de-cemiterio-no-rn.html

http://www.tribunadonorte.com.br/noticia/comeca-remocao-de-corpos-do-cemiterio-de-baia-formosa/160076

http://www.tribunadonorte.com.br/noticia/desocupacao-do-antigo-cemiterio-sera-hoje/160023

http://blog.tribunadonorte.com.br/eturismo/terreno-de-cemiterio-em-baia-formosa-vai-virar-empreendimento-turistico/51512

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Como o corpo humano se decompõe?

Imagem da exposição "O Corpo Humano como nunca o viu...". Disponível em http://www.jasfarma.com/noticia.php?id=733


Por Julia Moióli. Artigo publicado na revista MUNDO ESTRANHO da editora Abril. Seção Saúde - Perguntas. Disponível em: http://mundoestranho.abril.com.br


É um filme de terror de arrepiar os cabelos de qualquer defunto. Depois que a gente passa desta para melhor, nosso corpo perde suas defesas e começa a ser atacado por todos os lados: bactérias, animais e até substâncias produzidas por nós mesmos dão início ao fim. O cadáver vai ficando escuro e inchado, a pele e os órgãos se desfazem e o cérebro vira um caldo. Depois de algum tempo, não sobra quase nada. A decomposição acontece em duas frentes. A primeira é a mais esquisita: o próprio corpo se decompõe. "Quando alguém morre, a oxigenação pára de acontecer e o organismo se desequilibra. Minerais como o sódio e o potássio, importantes para o metabolismo, deixam de ser produzidos. Com isso, as células se desestabilizam e passam a digerir o próprio corpo", diz o fisiologista e professor de medicina legal Marco Aurélio Guimarães, da Universidade de São Paulo (USP). Ao mesmo tempo, bactérias famintas também entram no banquete. As primeiras a avançarem na carne são as da flora intestinal e da mucosa respiratória, que já vivem no organismo. Para continuarem vivas, essas bactérias invadem os tecidos e os devoram. Depois disso, as bactérias do ambiente deixam o cadáver irreconhecível. O suculento resto fica para insetos e até cães, gatos e urubus. Em geral, um corpo sepultado leva de um a dois anos para se decompor totalmente, mas esse tempo pode variar dependendo das condições do ambiente e do cadáver - se o morto tomava antibiótico, por exemplo, o processo demora bem mais. No fim, sobram apenas ossos e dentes, que duram milhares de anos a mais que os outros órgãos. Eles são a principal pista para que peritos consigam solucionar mortes violentas.


Vida de morto
Cadáver vira banquete para bichos e bactérias até ficar só o osso



SUCO PÓSTUMO

A pele passa por uma transformação radical: primeiro, ela perde água e resseca, tornando-se amarela e enrugada. Com o ataque das bactérias, ela fica verde e se dilata. Depois aparecem as bolhas. Quando elas se rompem, é a maior nojeira: a pele começa a soltar líquidos e, por fim, se desmancha

DURO NA QUEDA

O cadáver começa a ficar duro algumas horas depois da morte por causa do acúmulo de cálcio nos músculos. O corpo do morto se contrai e fica com pernas e braços meio dobrados. Para esticá-los, basta dar um puxão - a história de que é preciso quebrar os ossos do morto para deixá-lo reto não passa de lenda

RESISTÊNCIA MILENAR

No fim da decomposição sobram apenas os ossos e os dentes do cadáver. O segredo é que eles são formados basicamente por minerais, enquanto as bactérias decompositoras se interessam apenas por matéria orgânica. Se o defunto for enterrado em condições normais, longe da umidade e do calor excessivo, esses órgãos podem durar milhares de anos

EREÇÃO EXPLOSIVA

Como a pele da região do pênis é mais frouxa que a de outras partes do corpo, os gases bacterianos se infiltram por ali com mais facilidade. Como resultado, o dito-cujo tem uma falsa ereção. Mas isso não significa que o defunto está animadinho: ele apenas se esticou com a descarga gasosa

PERFUME DE PRESUNTO

Durante a decomposição, as bactérias que consomem o corpo fabricam subprodutos com um odor nada agradável. Substâncias como a putrescina e a cadaverina (credo!) ajudam o corpo a cheirar tão mal. Mas o campeão do fedor é o gás sulfídrico, que, além de tudo, é inflamável

NU COM A MÃO NO BOLSO

Como diz aquela marchinha do Silvio Santos, "do mundo não se leva nada" - nem mesmo as roupas do funeral, que também são uma iguaria muito apreciada pelas bactérias. O algodão e outras fibras naturais vão embora mais rápido, em três ou quatro anos. Já tecidos sintéticos, como náilon e poliéster e outros derivados do plástico, podem durar décadas

VISTA EMBAÇADA

Como os outros órgãos, os olhos dos mortos também se desidratam. A córnea fica com uma espécie de tela viscosa meio esbranquiçada, parecida com um véu. Mais adiante, quando as bactérias e larvas começam a atuar, os olhos são o prato predileto. Por isso, eles são corroídos rapidinho até sumirem totalmente

MINGAU DE CÉREBRO

As células cerebrais apagam entre 3 e 7 minutos após a morte. Dias depois, quando os gases da decomposição invadem os órgãos, os tecidos do cérebro começam a se desmanchar. A partir daí, a massa cinzenta vai se tornando um líquido viscoso com a consistência de um mingau de cor de argila, que pode escorrer pelas narinas

SANGUE FRIO

Assim que o sangue pára de circular, ele perde oxigênio e fica mais escuro. Em 8 a 12 horas, ele começa a coagular, ficando com a consistência de uma goiabada. No fim, por ação da gravidade, o sangue concentra-se na parte de baixo do corpo, em regiões como as costas, pernas e pés

CRESCIMENTO DO ALÉM

Já ouviu aquele papo de que cabelos, pêlos e unhas crescem depois da morte? É verdade! Eles são feitos de queratina, uma proteína muito resistente. No caso de cabelos e pêlos, a estrutura onde os fios se desenvolvem nem percebe que a irrigação sanguínea acabou. Mas isso só dura 24 horas, quando os fios podem crescer no máximo 0,05 centímetro

DESTRUIÇÃO INTERNA

Pela ação das bactérias, os órgãos desprendem-se da estrutura do corpo e desmancham. Os que se decompõem mais rápido são os pulmões (que têm tecidos finos), os intestinos (que já possuem bactérias que ajudam na digestão) e o pâncreas (cujas enzimas agem na decomposição). Um dos que mais demoram é o fígado, pois ele é um dos maiores órgãos do corpo humano

Consultoria: Faculdade de Medicina do ABC

Mergulhe nessa
Na Internet:

www.pericias-forenses.com.br/mecamorte.htm

www.unifesp.br/dpato/medlegal/fundamto.htm


Fonte: http://mundoestranho.abril.com.br/saude/pergunta_286990.shtml

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Livro perdido de Freyre traçou sociologia dos cemitérios brasileiros

Jazigos e Covas Rasas seria a continuação de Casa Grande e Senzala, Sobrados e Mucambos e Ordem e Progresso

Cemitério de Santo Amaro, em Recife - PE. Data: 2000. Imagem disponível em: http://www.reporterbrasil.org.br/exibe.php?id=15


Por José Heraldo e Vânia Lira. Artigo publicado no jornal O BERRO - Jornal Laboratório da Turma WL0 7º Período da Disciplina de Técnicas de Reportagem do Curso de Jornalismo da Universidade Católica de Pernambuco. Edição O Berro do Cemitério. 2000.1. Disponível em O Berro on line [ http://www.unicap.br/berro/ ]



A o contrário do que muitos imaginam, Casa Grande & Senzala, Sobrados e Mucambos, Ordem e Progresso, obras do sociólogo e antropólogo Gilberto Freyre formam uma tetralogia. A Quarta parte, Jazigos e Covas Rasas, planejada e parcialmente elaborada pelo escritor, jamais chegou a ser editada e sequer se sabe onde se encontram os originais. Segundo a antropóloga Fátima Quintas, esta última obra restringiu-se á manuscritos que nunca chegaram ao conhecimento público. Este fato comprometeu o complemento histórico, sociológico e antropológico da visão Gilbertiana do Brasil do séculos XVI ao XIX.

Como o livro Casa Grande & Senzala destinou-se a transmitir os costumes da época da cana-de-açúcar e da escravatura, Jazigos e Covas Rasas deveria refletir uma visão social e arquitetônica dos ritos funerais desde a época do império.

O professor Edson Nery da Fonseca afirma que Gilberto Freyre foi deputado constituinte entre 1946 e 1950. Nesse período planejou escrever Jazigos e Covas Rasas. Fez pesquisas na Biblioteca e Arquivo Nacional do Rio de Janeiro. Freyre reuniu uma documentação que trouxe para o Recife, embrulhado em um veludo vermelho, colocando-o em estante de sua residência, de onde desapareceu.

Na opinião de Nery, a obra não chegou a ser concluída por três motivos. ”O primeiro foi o desgosto de Gilberto Freyre com o desaparecimento dos escritos; o segundo, a dispersão do autor para outros assuntos tirando seu interesse; e o terceiro é o fato de não gostar de concluir nada, a incompletude perpetuava sua obra”, revela.

Edson Nery da Fonseca conta que Gilberto Freyre tinha intenção de escrever o quarto e último volume da série iniciada com Casa-grande & senzala. O título seria Jazigos e covas rasas, a última morada dos senhores e dos escravos. "Ele preparou uma grande documentação para escrever esse livro, mas não escreveu. Dizia que a documentação tinha sumido de sua casa em Apipucos. Madalena, mulher dele, dizia: Gilberto, ninguém ia entrar aqui para pegar isso! Minha explicação é a seguinte: Ele não escreveu porque não queria concluir nada". Imagem e citação disponíveis em: http://www.revistaplatero.com.br/n9/platero3.asp

A intenção de Gilberto Freyre era de que a obra fosse um estudo de ritos patriarcais, de sepultamentos e da influência de mortos sobre vivos. O grande destaque são as fases de desenvolvimento e desintegração na qual ainda se encontra a sociedade brasileira, desde o patriarcado até os dias atuais, refletidos nos enterros, covas ou jazigos familiares. Para isto o autor utilizou fontes como o livro Arquitetura dos Cemitérios Brasileiros, de Clarival do Prado Valadares, anúncios de jornais e visitas pessoais aos principais cemitérios do Recife, Rio de Janeiro, Bahia e Minas Gerais.

Gilberto concebia o homem morto, de certo, homem social. E, no caso de jazigo ou de monumento, o morto se torna expressão ou ostentação do poder, de prestígio, de riqueza dos sobreviventes, dos descendentes, dos parentes, dos filhos, da família. O túmulo patriarcal, o jazigo chamado perpétuo, ou de família, o que mais exprime é o esforço, às vezes pungente, de vencer o indivíduo a própria dissolução integrando-se na família, que se presume eterna através de filhos, netos, descendentes, pessoas do mesmo nome seriam, na visão de Freyre o túmulo partriarcal a perpetuação da endogomia.

Desta forma o jazigo a tornaria eterna, simbolizando uma forma de ocupação do espaço cuja arquitetura e simbologia continua, e até aperfeiçoa, a das casas-grandes e dos sobrados dos vivos, requintando-se dentro de espaços imensamente menores que os ocupados por essas casas.

O sociólogo considerava que os túmulos suntuosos seriam de conservação dispendiosa para a família, ultrapassando a capacidade econômica dos descendentes dos senhores ricos que o levantaram como descreveu em uma de suas experiências “... era um túmulo com alguma coisa de monumental levantado por uma família opulenta da época do império. Seu chefe fora ministro de Pedro II.

Abandonado, arruinado, sujo, o túmulo patriarcal abria-se naquela tarde de chuva longos anos depois de falecido o grande do império ... para receber o corpo magro e vestido simplesmente de chita branca com salpicos azuis, uma pobre velha – sua neta – cujo enterro não chegara a atrair as clássicas três pessoas necessárias para a condução decente de qualquer ataúde``.

Freyre destacou nos jazigos a forma de imagens ou figuras de dragões, leões, anjos, corujas, folhas de palmeira ou de louro santos, do próprio Cristo e da Virgem. Estes símbolos, feitos de mármore, bronze ou outros materiais nobres, guardam os jazigos privilegiados como que defendendo-os, até chegar o dia do Juízo, de ladrões, enchentes, bichos imundos e da profanação.

Analisando a sociedade pernambucana, Gilberto Freyre coloca que antigamente as pessoas do Recife chamavam o beco que ia do centro da cidade ao cemitério de Santo Amaro de “Quebra Roço“ (presunção, vaidade e orgulho).

É como o tempo age sobre as casas e os túmulos, não apenas os modestos mas também os monumentais, quebrando-lhes o roço, isto é, sua arquitetura característica – casas – grandes, sobrados e monumentos fúnebres - criações de pedra e cal, de mármore e bronze com que as famílias patriarcais ou tutelares pretenderam firmar no seu domínio não só no espaço como no tempo.

Fonte: http://www.unicap.br/berro/Berrocemiterio/freyre.htm

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Peru: Encontrados 79 corpos nas muralhas de Kuélap

Os restos encontrados no Amazonas (Peru) junto com 27 estruturas novas serão investigados em dezembro.

Os enterros estavam no interior de uma muralha de pedra. (Difusión). Imagem disponível em http://peru21.pe/noticia/615503/hallan-79-cuerpos-murallas-kuelap

Por PERU.21.pe (portal de notícias peruano). Artigo publicado em 29/07/2010, quinta-feira, às 08:18, na seção "Atualidade". Tradução do espanhol para o português: Prof. Rodrìgo Frigerio Piva.

A fortaleza de Kuélap [http://es.wikipedia.org/wiki/Ku%C3%A9lap] continua surpreendendo o mundo. Durante os trabalhos de conservação que se realizam no lugar com a finalidade de recuperar os setores deteriorados pelas constantes chuvas e pelas visitas turísticas que se realizam sem supervisão, um grupo de técnicos do Projeto Arqueológico de Kuélap [http://www.mincetur.gob.pe/turismo/proyectos/kuelap/fortaleza_kuelap.htm] descobriu 79 corpos que estavam no interior de uma muralha.

A informação foi confirmada a Peru.21 pelo diretor do projeto de restauração e conservação, Alfredo Narváez, que afirmou que, devido à grande quantidade de umidade que tem o sitio arqueológico, pela sua localização, os corpos quase não conservam nenhum vestígio orgânico nem de tecidos.

“A maior parte são restos de ossos de adultos, porém não descartamos que haja também adolescentes. Estes pertenceriam aos séculos VII e VIII da Era Comum e seriam da cultura Chachapoyas
[http://es.wikipedia.org/wiki/Cultura_Chachapoyas]”, detalhou.

O investigador explicou que se trataria de enterros secundários. É dizer, que foram desenterrados de sua cova original e levados a outro setor para ser novamente enterrados.

“Este costume era bem difundido no Peru Pre-hispânico e Kuélap, pela sua extensão e arquitetura, precisou do trabalho comunitário de várias zonas. Então, ao se construir o lugar mais importante de caráter sagrado para os Chachapoyas, as comunidades que ajudaram em sua construção levaram seus mortos para serem enterrados novamente na fortaleza”, disse.

Narváez completa dizendo que, devido aos problemas de financiamento, prontamente no fim deste ano se fará um estudo mais minucioso dos corpos, e posteriormente estes seriam expostos em algum museu.

CONSERVAÇÃO. Por outra parte, o diretor do projeto de restauração e conservação de Kuélap anunciou que estão trabalhando na reabilitação de um conjunto de 27 estruturas novas que foram localizadas no setor sul da fortaleza. “Queremos encontrar evidências que nos permitam conhecer um pouco mais da história deste recinto”, analisou.

A respeito das 35 seções da fortaleza que estavam a ponto de cair por causa do tempo e pela falta de manutenção, o diretor disse que já foi possível reabilitar 60% da área afetada.

Desta forma, lembrou que as zonas mais afetadas do sítio arqueológico e nas que ainda estão trabalhando são a muralha exterior, a muralha do “Pueblo Alto” e as duas entradas adicionais ao complexo arquitetônico, que foram declaradas em emergência.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Meio século de paz

Exército comemora os 50 anos do mausoléu dos pracinhas mortos na Segunda Guerra

O monumento localizado no Aterro do Flamengo, Rio de Janeiro foi inaugurado em 1960 e abriga os restos mortais dos pracinhas brasileiros que lutaram e morreram na Itália. Foto: Fernado Dallacqua, 2005. Imagem disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Monumento_aos_Mortos_da_Segunda_Guerra_Mundial

Por Cristina Romanelli. Nota publicada na seção "Em Dia", página 10, da Revista de História da Biblioteca Nacional [versão online: http://www.revistadehistoria.com.br], Nº 59, Ano 5, de [01 de] Agosto de 2010.


A Segunda Guerra Mundial acabou em 1945, mas os corpos dos 462 pracinhas só voltaram do Cemitério Brasileiro em Pistoia, na Itália, em 1960. A ideia era repatriá-los de imediato, mas a lei italiana só permitiu que fossem retirados do local muito tempo depois. No mesmo ano, foi inaugurado o Monumento Nacional aos Mortos da Segunda Guerra Mundial, no Aterro do Flamengo, Rio de Janeiro. Este mês, são comemorados os 50 anos do mausoléu, com apresentação da Banda Marcial do Corpo de Fuzileiros Navais e exposição de equipamentos e viaturas militares.

Selecionado em um concurso com mais de 20 projetos arquitetônicos, o desenho de Hélio Ribas Marinho e Marcos Konder Netto sofreu alterações durante as obras. “Em vez de uma mãe carregando o pracinha morto, foi erguida a estátua dos três pais da pátria, que representam o Exército, a Aeronáutica e a Marinha”, conta o historiador Francisco César Ferraz, da Universidade Estadual de Londrina.

No mausoléu, há 15 jazigos sem nomes gravados. Eles pertencem a mortos não identificados, e um deles passou a simbolizar o “Soldado Desconhecido”. De acordo com Ferraz, o cemitério de Pistoia também guarda os restos de um soldado brasileiro desconhecido. Ao lado dele foi instalado um marco em homenagem aos combatentes.

Serviço:

O monumento fica na Avenida Infante Dom Henrique, 75 – Glória.
Visitas de terça a domingo, das 10h às 16h.

Veja também o site oficial do "Monumento Nacional aos Mortos na Segunda Guerra Mundial - MNMSGM" que é uma Organização Militar subordinada à Diretoria do Patrimônio Histórico e Cultural do Exército:

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Santa Cruz do Sul (RS): Ação de vândalos ameaça cemitério dos imigrantes

Depredação de lápides causou indignação entre os descendentes dos colonizadores alemães e a comunidade em geral. Crédito: Janaina Zílio / Gazeta do sul / CP. Imagem disponível em: http://www.correiodopovo.com.br/Impresso/Default.aspx?Ano=115&Numero=230&Caderno=9&Noticia=141262




Do Jornal Correio do Povo (edição digital) de Porto Alegre (RS), ANO 115, Nº 230 -Seção Cidades-Capa - Terça-feira, 18 de Maio de 2010.


A depredação de um cemitério em Santa Cruz do Sul que abriga túmulos do século XIX, no bairro Country, nas últimas semanas, causou indignação entre os moradores locais e da Linha João Alves. O presidente da Comunidade Evangélica de Linha João Alves, Darci Niedersberg, afirma que, de algumas lápides, moldadas em pedra-grês, só restam pedaços. O Cemitério Agnes tem túmulos dos pioneiros da região. Inscrições nas pedras, algumas cobertas de limo e já sem a mesma nitidez, identificam mortes ocorridas antes de 1900. A mais antiga data de 1856, sete anos após a chegada dos primeiros imigrantes a Santa Cruz, em 1849.

O cemitério, localizado na avenida Léo Kraether, fica em frente ao entroncamento com a rua Benno João Kist. Segundo Niedersberg, as depredações são frequentes. Os casos são registrados, afirma, em finais de semanas nos quais são promovidas festas em uma boate próxima. O presidente da comunidade diz que jovens se concentram próximos ao local e aproveitam os muros baixos do cemitério para a prática do vandalismo.

Niedersberg lamenta o cenário de destruição no cemitério: “Ninguém mais se importa, mas têm valor histórico” . Imagem disponível em: http://www.gazetadosul.com.br/default.php?arquivo=_noticia.php&intIdEdicao=2090&intIdConteudo=132107
Esculturas foram derrubadas e lápides quebradas nas últimas semanas. "Sem falar em camisinhas usadas e peças íntimas que são deixadas sobre os túmulos", afirma. "São sepulturas antigas, com valor histórico que deveria ser reconhecido", lamenta Niedersberg.

Um estudo de 2007 sobre a arquitetura funerária, conduzido pelo professor Ronaldo Wink para o Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), apresenta peculiaridades sobre os cemitérios antigos do município. Túmulos localizados no interior eram todos feitos em pedra-grês nas primeiras décadas, devido à facilidade de obtenção da rocha na região e sua maleabilidade na execução das esculturas. O mármore, na época um material importado, tinha um custo alto e era raramente utilizado.

A partir do início do século XX, elementos decorativos moldados em argila e massa de pó de mármore, como figuras de anjos e santos, passaram a aparecer de forma constante. A simbologia nas sepulturas do interior era predominantemente cristã. Em alguns cemitérios, aparecem lápides com símbolos maçônicos, como ramos de acácia. O estudo também revela que a ausência de cemitérios organizados nos primeiros anos de colonização levou à destruição de túmulos mais antigos.




Leia também a notícia original intitulada "Vândalos ameaçam hitória em lápides" no jornal on line "Gazeta do Sul" de Santa Cruz do Sul (RS):

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Cemitério paleocristão de Tarragona na Espanha


Aspecto do museu e parte do cemitério romano e paleocristão da antiga cidade de Tarraco (hoje Tarragona), na região da Catalunha, Espanha. Foto: Calafellvalo, 2007. Imagem disponível em: http://www.flickr.com/photos/calafellvalo/2141973538/in/set-72157603527216006/

Compilamos de alguns sites (todos devidamente citados) algumas informações e imagens de um dos maiores cemitérios romanos e paleocristãos existentes fora da península itálica. É realmente muito interessante e pouco divulgado. Como alguns sites não estavam em português contamos com a colaboração do Professor de Espanhol Rodrígo Frigerio Piva que prontamente nos fez as traduções. Espero que apreciem.


O cemitério paleocristão de Tarragona é um conjunto funerário da época tardo romana de meados do século III localizado fora da zona urbana, próximo do rio Francolí, que perdura até o século V. É o cemitério paleocristão mais importante do Mediterrâneo Ocidental. É uma das localizações do Lugar Patrimônio da Humanidade denominado Conjunto arqueológico de Tarraco, em concreto identificado com o código 875-008.

Outro aspecto da área do cemitério paleocristão de Tarragona. Foto: Calafellvalo, 2007. Imagem disponível em:http://www.flickr.com/photos/calafellvalo/2141973538/in/set-72157603527216006/

O cemitério de Tarraco surgiu no entorno de uma basílica dedicada a São Fructuoso e seus dois diáconos. A basílica documentada constava de três naves e cabeceira com abside exterior. Posteriormente se agregaram algumas câmaras funerárias e um batistério. Os restos desta basílica desapareceram para deixar passagem para a construção da «Fábrica de Tabacos de Tarragona» durante a primeira metade do século XX.
A tipologia dos túmulos é bem variada e vai desde enterros simples com vaso ou telha (tegulae) até os mausoléus, passando por uma grande diversidade de sarcófagos, alguns de procedência norte - africana, ou em ataúdes de madeira. Uma peça de significado é a boneca de marfim, datada do século IV, que apareceu dentro de um sarcófago com os restos de uma menina de aproximadamente seis anos. Mede 23 cm de altura e está articulada pelos ombros, cotovelos, cadeiras e joelhos. Tudo isso permite adentrar-se na essência da sociedade cristã de Tarraco.

Aspecto e detalhes da "Boneca de Marfim" encontrada no túmulo de uma menina. Imagem disponível em: http://www.mnat.es/new/gener98/cat/index.html

Referências: Este artigo foi criado a partir da tradução [para o espanhol] do artigo Necrópolis paleocristiana de Tarragona da Wikipédia em catalão, sob licencia Creative Commons Compartir Igual 3.0 e GFDL.

Fonte: http://es.wikipedia.org/wiki/Cementerio_paleocristiano_de_Tarragona

Tarragona
Museu e Necrópolis Paleocristãos

Ritos funerários de Tarraco
Aspecto da área escavada do cemitério paleocristão de Tarragona (área coberta). Imagem disponível em: http://www.galeon.com/maty/tarragona/la_necropolis.htm

O campo conta com mais de 2.000 túmulos que datam do século III.
Junto ao Museu Arqueológico de Tarragona se situa esta necrópolis, onde se conservam numerosas sepulturas de enterro paleocristãs. A origem do cemitério se encontra na segunda metade do século III. Posteriormente, os trabalhos de escavação puseram em evidência até 2.050 tumbas de tipologia diversa.
Aspecto de um dos sarcófagos expostos no Museu do cemitério paleocristão de Tarragona. Foto: Calafellvalo, 2007. Imagem disponivel em:http://www.flickr.com/photos/calafellvalo/2141973538/in/set-72157603527216006/
Muitos enterramentos se encontram colocados ao redor e no interior de uma basílica, na que se identifica um sepulcro com uma inscrição que alude a Fructuoso, Augurio e Eulogio, os mártires tarraconenses. Esta basílica data do século V de d. C. Na necrópolis também se encontraram esculturas, estatuas de mármore e outros objetos.

Fonte: http://www.spain.info/pt_BR/conoce/museo/tarragona/museo_y_necropolis_paleocristianos.html

Necrópolis romana. A cidade de Tarragona

Na parte oeste da cidade de Tarragona se encontra a Necrópolis Paleocristã, um cemitério romano e cristão dos séculos III e IV.
Aspecto de sarcófagos expostos no Museu do cemitério paleocristão de Tarragona. Foto: Calafellvalo, 2007. Imagem disponivel em: http://www.flickr.com/photos/calafellvalo/2141973538/in/set-72157603527216006/


Entre 1923 e 1933 se realizaram umas escavações arqueológicas que encontraram a localização de um importante cemitério paleocristão em que se encontraram milhares de objetos e belos mosaicos. Esta necrópolis foi utilizada desde a época da Tarraco romana até o século VII. Se encontraram diferentes tipos de enterramentos, pagãos e cristãos. A maior parte destes achados pode ser vistos no Museu Arqueológico de Tarragona.

Foto destacando a recuperação do sarcófago de "Leocadius" durante as escavações coordenadas por Serra y Villar entre 1923 e 1933. Imagem disponível em:http://www.mnat.es/esp/mnat/necr/necr04.html


A filial do Museu Arqueológico Nacional de Tarragona, o Museu e as Necrópolis paleocristãs possuem objetos e obras de arte deste período. Podem-se visitar as instalações ao ar livre dos restos da necrópolis paleocristã. Destacam as coleções de ânforas e outros objetos cotidianos da vida da Tarraco romana e paleocristã.

Fonte: http://www.fotonostra.com/albums/catalunya/necropolis.htm

Mapa localizando Tarragona na região da Catalunha e Espanha. Imagem disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Tarragona

Tarragona é uma cidade de Espanha pertencente à comunidade autonómica da Catalunha. Situa-se a cerca de 100 km a sudoeste de Barcelona, e é capital da província com o mesmo nome.
É banhada pelo Mar Mediterrâneo. Tem grande tradição histórica cultural, é destino de muitos turistas, tanto por suas praias como por seu patrimônio histórico e artístico. Está junto a outros doze lugares espanhóis que é considerado Patrimônio Mundial da UNESCO.

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Tarragona



Outros links sobre o cemitério paleocristão de Tarragona:

http://www.fotoaleph.com/Colecciones/Tarragona/Tarragona-texto.html#Tarragona

http://www.masmuseos.com/museos/Tarragona

http://www.mnat.es/esp/mnat/necr/index.html

http://www.tarragona.ws/tarragona/monumentos/monumentos.html

sexta-feira, 2 de julho de 2010

"A MORTE COMO FONTE PATRIMONIAL: O cemitério dos escravos em São José do Barreiro" livro de Ludmila Pena Fuzzi

Foto: Capa do livro "A Morte como fonte patrimonial", 2008. Imagem disponível em: http://clubedeautores.com.br/book/19422--A_Morte_Patrimonial.



Por Ludmila Pena Fuzzi. Resenha publicada no site: http://clubedeautores.com.br/book/19422--A_Morte_Patrimonial



A morte pode ser vista como fonte para entendimento da própria vida. É uma memória que está presente no estudo da mentalidade de uma sociedade. Considerar a morte como fonte patrimonial é entender as últimas vontades dos mortos, a partir de seus vestígios encontrados no entorno de suas sepulturas.


Vista de Jazigos de mármore no "Cemitério dos Escravos" em São José do Barreiro (SP). Foto: Ludmila Pena Fuzzi, 2008. Imagem disponível em: http://cafehistoria.ning.com/photo/photo/listForContributor?screenName=2gtwxjdtzj31u&page=3



O cemitério pode ser local para identificação de elementos que demonstram a história social e artística de uma região. A estatuária, as obras arquitetônicas, os epitáfios e os símbolos encontrados e analisados nos túmulos valorizam e exaltam a preservação desse imenso patrimônio público.


A concepção de patrimônio iniciou-se com a carta do Conde de Galveias ao governador de Pernambuco, para a conservação do Palácio de Duas Torres. A luta para conservação dessa temática viabilizou a organização legal para a valorização do patrimônio histórico nacional, com a criação de órgãos para sua defesa. Considerando esses propósitos, foi possível analisar o Cemitério dos Escravos em São José do Barreiro, uma significativa fonte de estudos. O local foi tombado em 1989, pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (CONDEPHAAT), com a finalidade de conservar a memória da sociedade do século XIX e início do XX, da cidade em que se localiza.


Vista do "Cemitério dos Escravos" com suas singulares palmeiras em São José do Barreiro (SP). Foto: Jenyfer Ramos, 2009. Imagem disponível em: http://cafehistoria.ning.com/photo/photo/listForContributor?screenName=2gtwxjdtzj31u&page=3


Para proceder a essa discussão, é necessário fundamentação em teóricos como Philippe Ariès, João José Reis, no contexto da morte, e em Françoise Choay e Le Goff, na questão patrimonial. Os documentos utilizados, como testamentos, óbitos e outros, por meio da metodologia aplicada, oportunizaram a reflexão dialética entre vida e morte na sociedade barreirense do século XIX até meados do século XX.


A historiadora Ludmila Pena Fuzzi, produziu esta obra como monografia de graduação no curso de História do Departamento de Ciências Sociais e Letras da Universidade de Taubaté (SP), sob orientação da Profª. Ms. Rachel Duarte Abdala em 2008. É membro do Instituto de Pesquisa Histórica e Regional (IPHR) e da ANPUH. Pós-graduada em Políticas e Sociedade do Brasil Contemporâneo, possui vários artigos publicados. Vem desenvolvendo junto a seus colegas do IPHR um Projeto de Preservação e Restauração do Cemitério dos Escravos de São José do Barreiro que deverá se tornar o primeiro Museu da Morte do país. É membro do Café História ( http://cafehistoria.ning.com/profile/LudmilaPenaFuzzi ) e possui um blog: http://profludfuzzi.blogspot.com/


[Dados sobre a obra]:

Páginas: 181
Edição: 1ª

Ano: 2010
Editora: Departamento de Ciências Sociais e Letras da Universidade de Taubaté/Clube do Livro

Preço Encontrado: R$ 43,31.


Fonte:http://clubedeautores.com.br/book/19422--A_Morte_Patrimonial

Mais informações sobre o Cemitério dos Escravos em São José do Barreiro (SP) na postagem:

http://kimitirion.blogspot.com/search/label/S%C3%A3o%20Jos%C3%A9%20do%20Barreiro%20%28SP%29%3A%20Cemit%C3%A9rio%20%C3%A9%20palco%20da%20Revolu%C3%A7%C3%A3o%20de%201932

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Vida após a morte

Cemitérios de São Paulo viram pontos turísticos e são registrados em livro
Vista geral do Cemitério da CONSOLAÇÃO, em São Paulo. Foto: Dornicke, 2008.

Por Cristina Romanelli
Publicado na Revista de História da Biblioteca Nacional, Seção "Em Dia", pág. 12, Edição nº 57, [01 de] Junho de 2010.


A terra da garoa tem muitos museus, mas poucos turistas conseguem visitar em um só lugar referências a Tarsila do Amaral, Campos Sales, Monteiro Lobato e marquesa de Santos. Para isso, é preciso deixar o medo de lado. Afinal, não é qualquer um que mantém a calma ao entrar em um cemitério. A partir de 2011, a chance de alguém se perder entre os túmulos será menor. Isso porque será lançado um guia com roteiros pelas principais necrópoles paulistanas.

O livro Cemitérios e lugares da morte em São Paulo propõe passeios a pé, com mapas e setas indicando o percurso. Pode ser lido como um guia de turismo, mas com muito mais referências históricas. Segundo a editora Paula Janovitch, os roteiros relacionam os cemitérios com temas como arte e imigração. Já os “lugares da morte” seriam igrejas antigas, onde eram feitos os enterros até meados do século XIX. O primeiro cemitério público, chamado Consolação, só foi construído em 1858.

Para Eduardo Rezende, presidente da Associação Brasileira de Estudos Cemiteriais (Abec) e dono da Editora Necrópolis, o Cemitério Consolação é o mais indicado tanto para se visitar a última morada de personalidades históricas como para apreciar a arte tumular. O mausoléu da família Matarazzo, com 20 metros de altura, é campeão de visitas. Outros eventos, digamos, inusitados aconteceram por ali. “Pagu e Oswald de Andrade se casaram, em 1930, em frente ao túmulo do pai dele”, afirma Rezende.

Perto do Consolação, os cemitérios Araçá e São Paulo completam o circuito turístico básico. No Araçá, segunda necrópole pública da cidade, está enterrada Francisca Júlia (1871-1920), uma das primeiras poetisas do país. A estátua que enfeita hoje o túmulo é uma cópia da original, em mármore carrara, esculpida por Victor Brecheret. A obra foi transferida em 2006 para a Pinacoteca de São Paulo.

Além de Brecheret, outros artistas de sangue italiano se destacaram na arte tumular. Segundo a historiadora Eloína Ribeiro, Eugênio Prati, Galileo Emendabili e Antello Del Debbio chegaram a montar ateliês em frente ao Cemitério São Paulo. Eles se mudaram para a cidade na década de 1920, quando foram construídos os primeiros grandes monumentos funerários. A maioria das obras era feita para imigrantes. “As esculturas geralmente mostram que eles tiveram sucesso no Brasil, tornando-se comerciantes e industriais”, diz a historiadora.

Eloína escreveu um dos roteiros sobre as necrópoles da cidade, mas se limitou ao Cemitério São Paulo. Ali está a maioria das obras feitas por ítalo-brasileiros, sua especialidade. Com ela, Paula e Rezende formam um time crescente de admiradores de “lugares da morte”. Apesar de ainda haver muito preconceito, eles garantem: quem vai a um cemitério sempre acaba voltando depois.



Fonte: http://revistadehistoria.com.br/v2/home/?go=detalhe&id=3098

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Cemitério Medieval das Barreiras no Distrito de Braga em Portugal: enterramentos contemporâneos à Peste Negra

Aspecto das sepulturas do "Cemitério Medieval" com enterramentos datados entre os séculos XI e XIV, localizado no lugar Barreiras, Freguesia de Fão, Conselho de Esposende, Distrito de Braga ao norte de Portugal. Imagem disponível on-line em: http://portal.icnb.pt/ICNPortal/vPT2007-AP-LitoralNorte/O+Parque/Valores+Culturais/Patrim%C3%B3nio+cultural/?res=1024x768


Do verbete da Wikipédia: a Enciclopédia livre, intitulado "Cemitério medieval das Barreiras", modificado pela última vez, as 10h35min de 15 de janeiro de 2009.



O Cemitério medieval das Barreiras, situado no lugar das Barreiras, freguesia de Fão, no concelho de Esposende, é um dos exemplares mais importantes do conjunto de cemitérios pertencentes à Idade Média européia. Escavado desde 1989, revelam-se uma série de sepulturas feitas com pedras avulsas, com tampa. Pelo tamanho das sepulturas e pelos restos de ossos analisados pode-se identificar a idade, sexo e o estado de saúde das pessoas que ali foram enterradas.
Mapa do Conselho de Esposende, no Distrito de Braga, norte de Portugal. O lugarejo de Barreiras localiza-se na pequena Freguesia de Fão, próxima a foz do Rio Cávado no Oceano Atlântico. Imagem disponível on-line em: http://www.agenda.pt/iframe.php?subcat=ESPOSENDE


De uma cronologia que remonta ao séc. XI à entrada da Peste Negra em Portugal (Século XIV), foram exumados cerca de quase duas centenas de ossadas. Com o advento de modificações climatéricas ocorridas nesse período o cemitério das barreiras foi coberto pelas dunas e as gentes que por ali habitaram foram deslocadas mais para o interior e para a margem norte do rio Cávado.

As sepulturas apresentam-se orientadas à regra mediévica: cabeça para ocidente e pés para oriente. Muitas vezes as sepulturas eram reaproveitadas, vendo-se em algumas 4 enterramentos. Os sepultamentos eram feitos sem caixão e o corpo deveria estar envolto numa mortalha, em posição decúbito supino. Algumas sepulturas apresentam-se em forma antropomorfa e existem algumas, não raras, imobilizações para a cabeça do defunto, usando pedras ou até mesmo telhas para tal.

Posteriormente ao depósito do morto no interior da sepultura, esta era cheia com terra e depois colocada a tampa e novamente coberta com terra. À cabeceira, ficaria uma pedra mais elevada, a servir de estela ou indicação da localização do sepultamento. Foram ancontradas algumas moedas da primeira dinastia (Dinastia de Borgonha ou Afonsina), escórias de ferro e muita cerâmica da época.


Cemitério Medieval de Barreiras em 2008, apesar de sua importância é ameaçãdo pela especulação imobiliária local. Imagem disponível em: http://solasrotas.blogspot.com/2008_10_01_archive.html



Bibliografia

CUNHA, E.; Araújo, T.; Marrafa, C.; Santos, A.; Silva, A.M. (1990/92). Paleodemografia da população medieval de Fão: resultados preliminares, Boletim Cultural de Esposende, vol. 17, Câmara Municipal de Esposende, Esposende, 1990-1992, pp. 127-136.

CUNHA, E.; Araújo, T.; Marrafa, C.; Santos, A.; Silva, A.M. (1992). Paléodémographie de la population médiévale portugaise de Fão: Résultats préliminaire. Rivista di Antropologia, vol. 70, pp. 237-245.



CUNHA, E.,Paleobiologia das populações medievais portuguesas. Os casos de Fão e S. João de Almedina, Dissertação de Doutoramento apresentada para a obtenção do grau de Doutor em Antropologia, apresentado à Faculdade de Ciências e Tecnologia da universidade de Coimbra, Coimbra, 1994.



ALMEIDA, Carlos Alberto Brochado de, Carta arqueológica do concelho de Esposende, Boletim Cultural de Esposende, vol. 13/14, Câmara Municipla de Esposende, Esposende, 1988, pp. 26-32.



ALMEIDA, Carlos Alberto Brochado de, et alii, Necrópole Medieval das Barreiras - Fão, Boletim Cultural de Esposende, vol. 17, Câmara Municipla de Esposende, Esposende, 1990-92, pp. 111-126.


Fonte:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Cemit%C3%A9rio_medieval_das_Barreiras

Sobre as polêmicas e ameaças locais (Vila de Fão) ao Cemitério Medieval:

http://conversadocafe.blogspot.com/2009/04/cemiterio-medieval-com-barreiras-sera.html

domingo, 6 de junho de 2010

São José do Barreiro (SP): Cemitério é palco da Revolução de 1932

Imagens disponíveis em 06/07/2010 no site: http://www.classelider.com/noticia/?new_id=2232




Artigo postado em 16/07/[2009] as 17h09, na seção "Notícias" do jornal CLASSE LÍDER [http://www.classelider.com].




O mês de julho é representativo para a história do Vale Histórico. Marcado por batalhas em diferentes contextos, ele engloba homenagens como a realizada no último final de semana em São José do Barreiro pelo aniversário do conflito entre legalistas e paulistas no cemitério da cidade durante a Revolução de 1932.



Julho também foi o mês em que foi morto Manoel José Guedes Silveira, um dos conservadores da elite agrária de Silveiras quando se deu a breve Revolução Liberal de 1842.



Conflitos, estes, distintos, o ocorrido no século 20 costuma ser lembrado com mais ênfase. Trata-se de quando os paulistas, insatisfeitos com o Governo Provisório de Getúlio Vargas, instauraram uma revolução em defesa de uma nova constituição. Voluntários e militares do estado de São Paulo se deslocaram para os territórios limítrofes com o Rio de Janeiro e, no dia 9 de julho de 1932, foi dado o tiro que deu início à batalha.

De um lado, os legalistas [soldados do governo] partiam para o ataque afim de sufocar a revolta. Do outro, militantes paulistas se uniam para enfrentá-los com armamento diferenciado e estratégias que, de início, renderam bons resultados. Em São José do Barreiro, os combatentes paulistas - em quase 90% formados por voluntários - estavam armados com espadas cujas pontas eram mais arredondadas que as dos adversários. As espingardas também tinham particularidades como estrutura mais alongada e balas mais grossas que provocavam maior impacto em quem era atingido por um tiro. A estratégia dos revoltosos nessa cidade foi adotar o cemitério como acampamento, uma vez que ele ficava em uma área alta e de visibilidade privilegiada do entorno.

Mas no dia 13 de julho, em um ataque surpresa, os legalistas atacaram os paulistas dentro do cemitério. As marcas desse conflito podem ser vistas até hoje em árvores e túmulos locais. A historiadora Ludmila Pena Fuzzi, do IPHR (Instituto de Pesquisa Histórica Regional), desenvolve um trabalho de campo no local e conta que moradores antigos relataram fatos ocorridos ali, na época - muitos deles já foram confirmados por pesquisadores.

“Os paulistas estavam vencendo a batalha em terra, como nos contaram os moradores, e pudemos comprovar por meio de vestígios deixados pela batalha. Mas quando o exército brasileiro se deu conta da força dos paulistas, enviou os vermelhinhos e bombardeou o território”, disse Ludmila. Os vermelhinhos eram aviões leves, com lugar para duas pessoas. Deles foram jogadas granadas feitas com pólvora, que deixaram os paulistas em desvantagem.

“O cemitério é o único do Estado que é composto por palmeiras imperiais. Elas ajudavam os resistentes a se esconderem. Os legalistas só chegaram até eles, no dia 13 de julho, porque alguém lhes deu essa informação”, disse.
O pesquisador Tacilim Oréfice, do IPHR, conta que alguns túmulos hoje são afundados no solo por consequência da ação desses explosivos. “A degradação desse patrimônio começoucom essa batalha”, disse.

À ÉPOCA, OS COMBATENTES ERAM QUASE TODOS VOLUNTÁRIOS



Os combatentes da Revolução de 1932 em São José do Barreiro eram, em maioria, jovens entre 23 e 34 anos, em grande parte voluntários.



Eram civis que se uniam à causa paulista. Uma das marcas do recrutamento de pessoas na época era um cartaz com a imagem de um soldado apontando para quem parasse diante dele. “Era como se dissesse ‘você também tem de vir’”, conta a pesquisadora Ludmila. Nas roupas dos soldados do Governo era bordado o brasão nacional. Na dos combatentes paulistas, havia o emblema do Estado - que é o mesmo até hoje. Não há confirmação de que as mulheres também fizessem parte dos grupos que travavam batalhas em São José do Barreiro, mas sabe-se que muitas delas eram voluntárias no hospital da cidade.

O primeiro tiro da revolução foi dado em 9 de julho, a 10 quilômetros do Cemitério dos Escravos, que ainda não recebia esse nome. “Mas foi um tiro antecipado, porque planejava-se estourar a revolução mais tarde”, disse. O mato alto do cemitério era outro fator que favorecia a camuflagem dos combatentes. Naquela época, não eram feitas manutenção no espaço.

Os revolucionários se alimentavam com o que moradores próximos ao acampamento serviam a eles. A equipe de Ludmila deve fazer escavações para buscar elementos que comprovem o fato, dito por fontes entrevistadas, de que houve uma trincheira em um dos cantos do cemitério.

HISTORIADORES CONFIRMAM LENDA ANTIGA



Uma lenda conhecida entre os moradores de São José do Barreiro foi confirmada pela equipe do IPHR (Instituto de Pesquisas Históricas Regionais) recentemente e tem relação com os conflitos ocorridos no cemitério da cidade - a do roubo de uma imagem na época da Revolução de 32.
Tratava-se de uma imagem pequena de um anjo, que foi encontrada pelos pesquisadores no Asilo Municipal. A história conta que um dos soldados da batalha teria dado um tiro acidental nesta imagem. Com o impacto, a asa do anjo representado quebrou.

O autor do disparo, com medo de ser preso por isso, teria roubado o monumento. “Há mais de 40 anos as pessoas contavam essa história e um dia alguém disse que havia umas peças da Revolução reunidas no Asilo de São José do Barreiro. Fomos até lá e, entre elas, encontramos um anjo pequeno com as asas quebradas e uma marca de tiro”, disse a pesquisadora Ludmila Pena Fuzzi.

CEMITÉRIO - O cemitério de São José do Barreiro foi fundado em 1835 e é repleto de simbologias. Ele recebe o nome de “Cemitério dos Escravos” em razão de uma homenagem prestada no centenário da cidade, em 1959.

“O vigário da época quis comemorar os 100 anos com um monumento com o corpo de três escravos no cemitério. A lápide apresenta os escravos como operários e desbravadores dos sertões, deixando aquele discurso de que eles eram objetos”, disse a historiadora. Pelo formato de trapézio e as ruas em formato de cruz, é possível afirmar que este cemitério era litúrgico - ou seja, pertencia à igreja.

HOMENAGEM - No último final de semana, cerca de 100 pessoas entre moradores da cidade, autoridades e pesquisadores se reuniram na primeira celebração pública realizada no Cemitério dos Escravos. Eles relembraram essa história em uma ação que visava despertar na população uma consciência histórica e de preservação. (Fonte: Valeparaibano
[http://www.valeparaibano.com.br/] ).