A morte nos faz cair em seu alçapão, / É uma mão que nos agarra / E nunca mais nos solta. / A morte para todos faz capa escura, / E faz da terra uma toalha; / Sem distinção ela nos serve, / Põe os segredos a descoberto, / A morte liberta o escravo, / A morte submete rei e papa / E paga a cada um seu salário, / E devolve ao pobre o que ele perde / E toma do rico o que ele abocanha.
(Hélinand de Froidmont. Os Versos da Morte. Poema do século XII. São Paulo : Ateliê Editorial / Editora Imaginário, 1996. 50, vv. 361-372)

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Santa Cruz do Sul (RS): Projeto busca preservar o que resta de cemitério

TÚMULOS do cemitério de Alto Linha Santa Cruz, que remontam ao tempo da imigração, podem ser declarados patrimônio do município [de Santa Cruz do Sul (RS)]. Patrimônio Histórico > idéia é incluir local.

Cemitério de Alto Linha Santa Cruz é dos mais antigos da região. Foto: Janaína Zilio / ag. Assmann. Imagem disponível em: http://www.gazetadosul.com.br/default.php?intIdEdicao=2098


Por José Augusto Borowsky (zeaugusto@gazetadosul.com) para a seção "Geral" do Jornal Gazeta do Sul publicado em SANTA CRUZ DO SUL, ANO 66, Nº 102, TERÇA-FEIRA, 25 DE MAIO DE 2010, página 09. Disponível on-line em http://www.gazetadosul.com.br/



O antigo cemitério da Comunidade Evangélica de Alto Linha Santa Cruz, nos fundos da Igreja Evangélica da Avenida Dom Alberto Etges, poderá ser declarado patrimônio histórico de Santa Cruz do Sul. O projeto de lei, de autoria do vereador Nasário Bohnen (DEM), começou a tramitar ontem na Câmara.

O cemitério, que está desativado desde 1962, possui cerca de 100 túmulos e, possivelmente, seja um dos mais antigos da região. Hoje, a limpeza do local é feita, nos finais de semana, pela Juventude Evangélica de Alto Linha Santa Cruz (Jealisc). No entanto, o vereador entende que o grupo poderia contar com o apoio do poder público e isso se torna mais fácil no momento em que integrar o inventário histórico do município.

Atualmente, integram o rol do patrimônio histórico a Catedral São João Batista, o Centro de Cultura Jornalista Francisco José Frantz, a Igreja Evangélica e o Cemitério dos Imigrantes de Rio Pardinho, e a antiga Cooperativa Agrícola de Linha Santa Cruz. Para Bohnen, os antigos cemitérios guardam boa parte da história e nomes de pessoas que construíram o município. Por isso, cobra uma atenção maior do poder público.

Outro Aspecto do Cemitério de Alto Linha Santa Cruz. Foto: Janaína Zilio / ag. Assmann. Imagem disponívelem: http://www.gazetadosul.com.br/default.php?arquivo=_noticia.php&intIdConteudo=132580&intIdEdicao=2098

LÁPIDES

Nos túmulos, estão enterradas pessoas que morreram entre 1855 e 1900, entre elas várias crianças. Nas lápides, constam os locais da Alemanha de onde vieram, frases em memória e até informações sobre as atividades que desenvolviam. As datas dos sepultamento mais antigos, possivelmente, se perderam. Conforme o pastor Honório Froeming, logo que os imigrantes chegaram não havia quem confeccionasse lápides. Com isso, as pessoas eram enterradas na terra, apenas com uma cruz de madeira indicando o local.

Nasário Bohnen disse acreditar na aprovação do projeto. No seu entender, o local pode se tornar um ponto turístico do município e uma fonte de pesquisa histórica.

Cemitério dos Imigrantes, em Rio Pardinho, já está protegido por lei. Foto: Janaína Zilio / ag. Assmann. Imagem disponível em:http://www.gazetadosul.com.br/default.php?arquivo=_noticia.php&intIdConteudo=132580&intIdEdicao=2098

Em Rio Pardinho

A Igreja Evangélica e o Cemitério dos Imigrantes, de Rio Pardinho, foi declarado patrimônio histórico de Santa Cruz do Sul em maio de 2004, através de projeto do ex-vereador Hardi Panke. Ele também possui túmulos do século 19, muitos deles bem cuidados. Outros, no entanto, foram pintados e perderam um pouco de suas características.

A coordenadora do Departamento de Cultura de Santa Cruz do Sul, Marli Silveira, explicou que o município ainda não possui lei de tombamento. Com isso, há uma certa dificuldade na fiscalização. Em Rio Pardinho, disse que a própria Comunidade Evangélica tem feito um trabalho de conscientização entre os associados para que mantenham as características do cemitério.

Marli considera positiva a iniciativa do vereador Nasário de preservar o cemitério de Alto Linha Santa Cruz. Destacou que, no futuro, o município deve criar uma lei de tombamento e de implantação do Conselho do Patrimônio Histórico. Mas, para ela, esta lei deve nascer da vontade da comunidade.


Fonte:

domingo, 16 de maio de 2010

Britânicos desvendam mistério de cova com 51 crânios


Análises dos dentes revelaram que as ossadas eram vikings. Cientista analisa um dos esqueletos. (Foto: Oxford Archaeology/Dorset County Council/NERC) Imagem disponível em: http://g1.globo.com/Noticias/Ciencia/0,,MUL1526589-5603,00-BRITANICOS+DESVENDAM+MISTERIO+DE+COVA+COM+CRANIOS.html




As ossadas de 51 pessoas decapitadas encontradas no sul da Grã-Bretanha em junho do ano passado foram identificadas como pertencendo a povos vikings que habitaram o país na virada para o segundo milênio.



Por BBC Brasil
Seção “Ciência” Atualizado em 12 de março, 2010 - 10:09 (Brasília) 13:09 GMT


Desde que a cova foi encontrada em junho de 2009, durante a construção de uma rodovia no condado de Dorset para os Jogos Olímpicos de Londres-2012, arqueólogos vinham tentando desvendar o mistério da identidade daqueles ossos e por que os crânios estavam separados do restante dos corpos.



"Havia muito pouca evidência no local, além de alguns cacos de cerâmica. Para descobrir a data daqueles restos mortais nós enviamos uma amostra dos ossos para uma datação por carbono e espantosamente a data que retornou é do final do período saxônico", disse o arqueólogo David Score, que liderou a equipe do instituto de arqueologia britânico Oxford Archaeology, que desenterrou as ossadas.

A partir do teste do carbono-14, os cientistas concluíram que aquelas pessoas foram mortas entre os anos 910 e 1030.

Nessa época, os anglo-saxões sofriam com as constantes incursões de povos vikings na Grã-Bretanha e conflitos entre líderes dos dois lados por controle da região eram comuns.

"O local do enterro era comumente usado para execuções naquela época", acrescenta Score. A dúvida que permanecia, portanto, era se os executados eram saxões ou vikings.

Análise dentária

Mas as análises dos dentes de dez daquelas ossadas mostraram que aquelas pessoas cresceram em países de clima mais frio do que o britânico. Os cientistas descobriram isso a partir da composição do esmalte dos dentes, influenciada pela água que a pessoa ingeriu quando criança.

O Laboratório de Geociências de Isótopos (NIGL) da agência geológica britânica explica que os países escandinavos, como Noruega e Suécia, possuem um clima mais frio do que a Grã-Bretanha, o que gera um tipo distinto de assinatura dos isótopos no esmalte dos dentes.

Os estudos também mostraram que os donos daquelas ossadas tinham uma alimentação rica em proteínas, que se assemelha a de povos da Suécia

"Trata-se de uma descoberta fantástica. É o maior grupo de estrangeiros que nós já identificamos usando isótopos", disse Jane Evans do NIGL.

"Descobrir que os jovens homens executados eram vikings é uma novidade eletrizante", disse Score.


Vikings teriam sido decapitados com vários golpes de espada por anglo-saxões. A cova de Dorset. (Foto: Oxford Archaeology/Dorset County Council/NERC ) Imagem disponível em: http://g1.globo.com/Noticias/Ciencia/0,,MUL1526589-5603,00-BRITANICOS+DESVENDAM+MISTERIO+DE+COVA+COM+CRANIOS.html


Execução


Com base nas cerâmicas encontradas na cova, os arqueólogos suspeitaram inicialmente que as ossadas datavam de um período entre 800 a.C. e 43 d.C., ou seja, entre a Idade do Ferro e o início da era romana.

Mas os exames do Carbono-14 provaram que os restos mortais eram muito mais recentes.

Os cientistas sabem também que a maioria dos ossos pertencia a adolescentes e jovens, que seriam altos e teriam boa saúde. Há também a suspeita de que eles tenham sido mortos ou enterrados nús, porque não há vestígio de roupas ou adornos na cova.

A forma como suas cabeças foram separadas de seus corpos revelou que eles não foram executados com um machado apropriado para a tarefa, que faria a decaptação em um único golpe. As vítimas teriam sido mortas com sucessivos golpes de espada.

Fonte: http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2010/03/100312_cemiterio_viking_vdm.shtml

sábado, 8 de maio de 2010

Amapá: Mausoléu na selva

Urnas antropomorfas revelam segredos de um povo amazônico extinto há mais de 300 anos

Arqueóloga Vera Guapindaia com urna funerária. Foto: F. Guenet/B. Arnaudo - Revista Veja


Por Bia Barbosa. Artigo publicado com o título: "Mausoléu na selva" na seção Arqueologia da Revista VEJA na edição 1653 de 14/06/2000. Disponível on-line no site: http://veja.abril.com.br


A região do Rio Maracá, um afluente do Rio Amazonas no Amapá, é um dos mais importantes santuários ecológicos da Amazônia. A natureza é exuberante, com trilhas e cavernas que atraem adeptos do turismo de aventura. Esse paraíso nos confins do Brasil tornou-se também ponto de peregrinação de arqueólogos em busca de respostas para os enigmas que envolvem um dos povos mais misteriosos da Amazônia. Nada menos do que treze cemitérios indígenas construídos por um grupo que se acredita extinto desde o século XVII foram localizados nos últimos cinco anos. Todos eles estão em grutas semi-encobertas por cipoais e folhagens e, em lugar de tumbas ou urnas funerárias convencionais, exibem inesperados vasos de cerâmica na forma de bonecos. São figuras de até 71 centímetros que representam homens e mulheres sentados em pequenos bancos, como um grupo de índios reunidos para uma conversa em torno da fogueira. Algumas figuras ocupam lugares de destaque, de frente para as demais, com traços zoomorfos. Dentro das peças de barro estão os ossos dos indígenas, que, por falta de nome mais preciso, os arqueólogos batizaram de maracás. Ainda não se sabe se a tribo desenvolveu uma civilização complexa como a dos habitantes da Ilha de Marajó, localizada na foz do Rio Maracá. As urnas são, por enquanto, os elementos mais significativos de como viveu essa gente. "Esse é apenas um ponto de partida para entender quem foram os maracás", diz a arqueóloga Edithe Pereira, do Museu Emílio Goeldi, em Belém.

Figuras agrupadas como num ritual. Foto: F. Guenet/B. Arnaudo - Revista Veja

As urnas do Rio Maracá não são inteiramente novas para os arqueólogos. Três delas estão expostas na Mostra do Redescobrimento, no Parque do Ibirapuera, em São Paulo. A questão é que até agora os vasos cerâmicos não tinham sido estudados sistematicamente. Havia apenas exemplares isolados coletados no fim do século XIX e desde então incorporados à coleção do Museu Goeldi, sob catalogação bastante genérica. Isso mudou com a descoberta dos cemitérios, o último deles no final do ano passado. Os maracás tinham um rito fúnebre bastante original. Não enterravam as urnas, como ocorria entre a maioria dos indígenas. Guardavam os ossos numa disposição padronizada. No fundo do vaso era colocada a pélvis e, sobre ela, as costelas, os ossos das mãos e dos pés. Por cima de tudo vinha o crânio. Os ossos mais longos eram acomodados nas laterais da urna. Os pesquisadores acreditam que as figuras zoomorfas, semelhantes a jabutis, guardavam ossos de pajés e chefes. "Os cemitérios nos fazem supor que os maracás viam as urnas como uma maneira de reverenciar e cultuar os antepassados", diz a arqueóloga Vera Guapindaia, coordenadora da pesquisa. "A visão das urnas com formas humanas sentadas em seus bancos e com as mãos nos joelhos devia causar um sentimento de temor e respeito."

Tampa de um vaso: desenhos indicam o sexo do morto. Foto: F. Guenet/B. Arnaudo - Revista Veja

Regalias femininas – Os bancos de madeira têm um significado marcante em várias culturas indígenas. São artefatos exclusivos de chefes, pajés e visitantes ilustres, acessórios importantes na tomada de decisões. Acreditava-se que o ato de sentar-se em um banco propiciava maior poder de concentração e reflexão. Daí também seu aspecto mágico. É curioso que o formato das urnas maracás seja de pessoas sentadas em bancos. Como isso ocorre até com as urnas que contêm ossos femininos, os cientistas supõem que a sociedade fosse igualitária, mesmo no trato com as mulheres. O sexo dos mortos é perfeitamente definido no formato dos vasos. Referências tão explícitas ao sexo feminino em objetos funerários são raras, mas coincidem com algumas descobertas interessantes sobre o papel das mulheres na região. Relatos dos primeiros europeus a percorrer o atual Amapá, no século XVI, falam de mulheres com papéis não tradicionais, como de guerreiras. Frei Gaspar de Carvajal, cronista da expedição de Francisco de Orellana, comparou-as às lendárias amazonas gregas, em 1542. Involuntariamente, ele associou para sempre essa imagem à região, batizando o rio com o nome de Amazonas.

Os cemitérios estão espalhados numa área de aproximadamente 21 quilômetros quadrados e já foram localizadas cerca de 150 urnas. Paralelamente ao levantamento das ossadas, os cientistas esperam datar as descobertas com exames de carbono 14 a cargo do Museu Nacional do Rio de Janeiro. Também estão sendo procurados vestígios de aldeias e habitações, essenciais para permitir a identificação do povo maracá. Já encontraram três sítios arqueológicos com cacos de cerâmica de uso cotidiano, que se acredita serem dos mesmos índios que fabricaram as urnas. "Cinco anos de estudos numa região com um potencial desse tamanho não é nada", comenta Vera Guapindaia. Se depender dela e de sua equipe, as pesquisas à beira do Rio Maracá só vão parar quando se souber exatamente que língua falavam e por quanto tempo viveram ali os índios que transformaram as cavernas do Amapá em mausoléu.


Fonte: http://veja.abril.com.br/140600/p_100.html