A morte nos faz cair em seu alçapão, / É uma mão que nos agarra / E nunca mais nos solta. / A morte para todos faz capa escura, / E faz da terra uma toalha; / Sem distinção ela nos serve, / Põe os segredos a descoberto, / A morte liberta o escravo, / A morte submete rei e papa / E paga a cada um seu salário, / E devolve ao pobre o que ele perde / E toma do rico o que ele abocanha.
(Hélinand de Froidmont. Os Versos da Morte. Poema do século XII. São Paulo : Ateliê Editorial / Editora Imaginário, 1996. 50, vv. 361-372)

domingo, 6 de junho de 2010

São José do Barreiro (SP): Cemitério é palco da Revolução de 1932

Imagens disponíveis em 06/07/2010 no site: http://www.classelider.com/noticia/?new_id=2232




Artigo postado em 16/07/[2009] as 17h09, na seção "Notícias" do jornal CLASSE LÍDER [http://www.classelider.com].




O mês de julho é representativo para a história do Vale Histórico. Marcado por batalhas em diferentes contextos, ele engloba homenagens como a realizada no último final de semana em São José do Barreiro pelo aniversário do conflito entre legalistas e paulistas no cemitério da cidade durante a Revolução de 1932.



Julho também foi o mês em que foi morto Manoel José Guedes Silveira, um dos conservadores da elite agrária de Silveiras quando se deu a breve Revolução Liberal de 1842.



Conflitos, estes, distintos, o ocorrido no século 20 costuma ser lembrado com mais ênfase. Trata-se de quando os paulistas, insatisfeitos com o Governo Provisório de Getúlio Vargas, instauraram uma revolução em defesa de uma nova constituição. Voluntários e militares do estado de São Paulo se deslocaram para os territórios limítrofes com o Rio de Janeiro e, no dia 9 de julho de 1932, foi dado o tiro que deu início à batalha.

De um lado, os legalistas [soldados do governo] partiam para o ataque afim de sufocar a revolta. Do outro, militantes paulistas se uniam para enfrentá-los com armamento diferenciado e estratégias que, de início, renderam bons resultados. Em São José do Barreiro, os combatentes paulistas - em quase 90% formados por voluntários - estavam armados com espadas cujas pontas eram mais arredondadas que as dos adversários. As espingardas também tinham particularidades como estrutura mais alongada e balas mais grossas que provocavam maior impacto em quem era atingido por um tiro. A estratégia dos revoltosos nessa cidade foi adotar o cemitério como acampamento, uma vez que ele ficava em uma área alta e de visibilidade privilegiada do entorno.

Mas no dia 13 de julho, em um ataque surpresa, os legalistas atacaram os paulistas dentro do cemitério. As marcas desse conflito podem ser vistas até hoje em árvores e túmulos locais. A historiadora Ludmila Pena Fuzzi, do IPHR (Instituto de Pesquisa Histórica Regional), desenvolve um trabalho de campo no local e conta que moradores antigos relataram fatos ocorridos ali, na época - muitos deles já foram confirmados por pesquisadores.

“Os paulistas estavam vencendo a batalha em terra, como nos contaram os moradores, e pudemos comprovar por meio de vestígios deixados pela batalha. Mas quando o exército brasileiro se deu conta da força dos paulistas, enviou os vermelhinhos e bombardeou o território”, disse Ludmila. Os vermelhinhos eram aviões leves, com lugar para duas pessoas. Deles foram jogadas granadas feitas com pólvora, que deixaram os paulistas em desvantagem.

“O cemitério é o único do Estado que é composto por palmeiras imperiais. Elas ajudavam os resistentes a se esconderem. Os legalistas só chegaram até eles, no dia 13 de julho, porque alguém lhes deu essa informação”, disse.
O pesquisador Tacilim Oréfice, do IPHR, conta que alguns túmulos hoje são afundados no solo por consequência da ação desses explosivos. “A degradação desse patrimônio começoucom essa batalha”, disse.

À ÉPOCA, OS COMBATENTES ERAM QUASE TODOS VOLUNTÁRIOS



Os combatentes da Revolução de 1932 em São José do Barreiro eram, em maioria, jovens entre 23 e 34 anos, em grande parte voluntários.



Eram civis que se uniam à causa paulista. Uma das marcas do recrutamento de pessoas na época era um cartaz com a imagem de um soldado apontando para quem parasse diante dele. “Era como se dissesse ‘você também tem de vir’”, conta a pesquisadora Ludmila. Nas roupas dos soldados do Governo era bordado o brasão nacional. Na dos combatentes paulistas, havia o emblema do Estado - que é o mesmo até hoje. Não há confirmação de que as mulheres também fizessem parte dos grupos que travavam batalhas em São José do Barreiro, mas sabe-se que muitas delas eram voluntárias no hospital da cidade.

O primeiro tiro da revolução foi dado em 9 de julho, a 10 quilômetros do Cemitério dos Escravos, que ainda não recebia esse nome. “Mas foi um tiro antecipado, porque planejava-se estourar a revolução mais tarde”, disse. O mato alto do cemitério era outro fator que favorecia a camuflagem dos combatentes. Naquela época, não eram feitas manutenção no espaço.

Os revolucionários se alimentavam com o que moradores próximos ao acampamento serviam a eles. A equipe de Ludmila deve fazer escavações para buscar elementos que comprovem o fato, dito por fontes entrevistadas, de que houve uma trincheira em um dos cantos do cemitério.

HISTORIADORES CONFIRMAM LENDA ANTIGA



Uma lenda conhecida entre os moradores de São José do Barreiro foi confirmada pela equipe do IPHR (Instituto de Pesquisas Históricas Regionais) recentemente e tem relação com os conflitos ocorridos no cemitério da cidade - a do roubo de uma imagem na época da Revolução de 32.
Tratava-se de uma imagem pequena de um anjo, que foi encontrada pelos pesquisadores no Asilo Municipal. A história conta que um dos soldados da batalha teria dado um tiro acidental nesta imagem. Com o impacto, a asa do anjo representado quebrou.

O autor do disparo, com medo de ser preso por isso, teria roubado o monumento. “Há mais de 40 anos as pessoas contavam essa história e um dia alguém disse que havia umas peças da Revolução reunidas no Asilo de São José do Barreiro. Fomos até lá e, entre elas, encontramos um anjo pequeno com as asas quebradas e uma marca de tiro”, disse a pesquisadora Ludmila Pena Fuzzi.

CEMITÉRIO - O cemitério de São José do Barreiro foi fundado em 1835 e é repleto de simbologias. Ele recebe o nome de “Cemitério dos Escravos” em razão de uma homenagem prestada no centenário da cidade, em 1959.

“O vigário da época quis comemorar os 100 anos com um monumento com o corpo de três escravos no cemitério. A lápide apresenta os escravos como operários e desbravadores dos sertões, deixando aquele discurso de que eles eram objetos”, disse a historiadora. Pelo formato de trapézio e as ruas em formato de cruz, é possível afirmar que este cemitério era litúrgico - ou seja, pertencia à igreja.

HOMENAGEM - No último final de semana, cerca de 100 pessoas entre moradores da cidade, autoridades e pesquisadores se reuniram na primeira celebração pública realizada no Cemitério dos Escravos. Eles relembraram essa história em uma ação que visava despertar na população uma consciência histórica e de preservação. (Fonte: Valeparaibano
[http://www.valeparaibano.com.br/] ).



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