A morte nos faz cair em seu alçapão, / É uma mão que nos agarra / E nunca mais nos solta. / A morte para todos faz capa escura, / E faz da terra uma toalha; / Sem distinção ela nos serve, / Põe os segredos a descoberto, / A morte liberta o escravo, / A morte submete rei e papa / E paga a cada um seu salário, / E devolve ao pobre o que ele perde / E toma do rico o que ele abocanha.
(Hélinand de Froidmont. Os Versos da Morte. Poema do século XII. São Paulo : Ateliê Editorial / Editora Imaginário, 1996. 50, vv. 361-372)

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Memórias e saudades divididas onde a história jaz

Cemitérios de São Leopoldo remetem a saudades, mas também ajudam a contar história do Município.
Memórias e saudades divididas onde a história jaz. Foto: Adriana Tauchert/Da Redação. Imagem disponível em 18/08/2011 no site:http://www.diariodecanoas.com.br/regiao/225688/memorias-e-saudades-divididas-onde-a-historia-jaz.html



Por Adriana Tauchert/Da Redação. Artigo publicado no Diário de Canoas - Vale dos Sinos - Região - 31/10/2009 11h30 Atualizado em 10/04/2011 22h28

São Leopoldo [RS]- Entre as lápides e jazigos dos cemitérios de São Leopoldo repousam muito mais do que entes queridos. Nestes locais que nos remetem a sentimentos como a saudade e a dor, também estão as origens do Município. Nos falta, em geral, esta consciência de que os cemitérios podem nos revelar a memória da cidade, do povo, das famílias que ajudaram a criar e desenvolver o Vale do Sinos. Locais de reflexão e culto, os cemitérios guardam nossa história, a qual, poucos reverenciam de fato.

Em São Leopoldo há controvérsia quando o assunto é saber qual foi o primeiro cemitério da cidade no século 19. Sem um registro oficial e exato, restam os indícios. Conforme o historiador Germano Moehlecke, o primeiro cemitério foi o da Feitoria, hoje denominado Cemitério Municipal Pedro Carlos Becker. Já a administradora dos cemitérios municipais, Ermelinda Camargo acredita que o mais antigo é o Cemitério Municipal Cristo Rei.

Conforme Moehlecke, o da Feitoria deve ser o primeiro por estar localizado próximo à Casa do Imigrante, casa que abrigou os primeiros 39 imigrantes alemães que chegam ao Município em julho de 1824. "No pátio da própria Casa do Imigrante há cerca de dez túmulos antigos de pessoas que viveram, não só em São Leopoldo, mas de outras cidades da região como Estância Velha.’’

Indícios - Registros para comprovar datas não há. "Em 2001, um incêndio destruiu todos os documentos, inclusive fichas de pessoas sepultadas e cadastros de terrenos do Cristo Rei’’, conta a coordenadora dos cemitérios. Até a data do incêndio, os documentos ficavam guardados em uma construção no próprio cemitério. Os documentos posteriores ao incidente passaram a ser guardados na administração dos cemitérios municipais de São Leopoldo. O Cartório de Registros começou suas atividades em 19 de setembro de 1876 e nesta época os enterros já ocorriam no Cristo Rei, que hoje conta com cerca de 22 mil corpos sepultados.

Moehlecke diz que cerca de dois anos após o início da imigração, foi criado outro cemitério além do da Feitoria, na região onde hoje se localiza a Escola Municipal Villa Lobos, no Centro. "Mas não tenho conhecimento de que existem registros sobre a sua história e dados sobre o primeiro corpo a ser enterrado."

Registros dizem que mortos foram lançados ao mar
O professor de Pós-Graduação em História da Unisinos, Martin Dreher, acredita que o primeiro cemitério de São Leopoldo foi o da Feitoria. "O Cemitério da Feitoria é anterior à imigração. Mas não há mais sepulturas daquela época. Nele devem ter sido enterrados escravos e pessoas da Feitoria do Linho e Cânhamo’’, conta Dreher, que no início deste ano começou a pesquisa Os Cemitérios da Colônia Alemã.

Os primeiros registros da Comunidade Evangélica apontam que em 1830, um comerciante, Jacob Riehl, com 36 anos, foi sepultado neste cemitério. Mas as anotações começaram seis anos antes, ainda em 1824. O primeiro registro, por exemplo ocorreu ainda no navio, na segunda leva dos imigrantes alemães. Foi o de Pauline Dorothea Germania Jericke, evangélica, nascida em 29 de junho de 1824 e falecida em 4 de agosto do mesmo ano. Diz no registro que o corpo foi lançado ao mar, às 14 horas, inclusive com detalhes sobre a latitude e longitude.

Também o sapateiro Johann Springer, católico, que faleceu em 29 de agosto de 1824 foi lançado ao mar. Os registros foram feitos porque havia um pastor entre os imigrantes: Johann Georg Ehlers. Muitos registros posteriores não falam em local do enterro, mas chamam atenção pelo grande número de crianças.
Dreher diz que depois do cemitério da Feitoria surgiu o da vila, onde hoje é a Escola Villa Lobos. "Eu desconfio que as palmeiras que hoje estão lá são remanescentes daquela época. No local, o lado esquerdo era para enterrar os evangélicos e o direito para os católicos. Ele foi extinto devido a uma epidemia de cólera e tifo, sendo os corpos levados para fora da cidade onde hoje é o Cristo Rei.’’

Uma valiosa fonte de pesquisa
Para o historiador do Museu Histórico Visconde de São Leopoldo, Marcos Antônio Witt, o cemitério é uma fonte de pesquisa valiosa. Ele buscou em túmulos e lápides dados de genealogia para o seu livro Em busca de um lugar ao sol: Estratégias Políticas, lançado no ano passado. "Nos cemitérios é possível encontrar informações como datas de nascimento e de morte da pessoa. Em papéis as informações se perdem.’’

O historiador ressalta que é possível obter informações sobre a organização social de um grupo. "Há desde túmulos elaborados até outros bem simples. O grau de sofisticação do túmulo e a própria localização dão uma ideia do prestígio que a pessoa teve.’’ Witt buscou informações sobre em cinco cemitérios, entre eles da Feitoria, de Novo Hamburgo, Estância Velha e Três Forquilhas.


Conservando nossa memória
Conforme o historiador Germano Moehlecke, a conservação dos cemitérios é importante para o Município porque resgata a memória da cidade, além de ser uma forma de demonstrar respeito aos precursores. No Cemitério Municipal de São Leopoldo, por exemplo, entre outros nomes importantes, está o túmulo do médico e vice-diretor da Colônia Alemã de São Leopoldo, João Daniel Hillebrand, que veio na segunda leva de imigrantes em novembro de 1824; dos prefeitos Theodomiro Porto da Fonseca, Mário Sperb, Maria Emília de Paula, deputados estaduais Jorge Germano Sperb, Othon Blessmann e Frederico Guilherme Schmidt que fizeram parte da história do Município e hoje são homenageados pelo seu trabalho dando nome a ruas, avenidas e escolas.


Foto: Carlos Félix/GES


FONTE:http://www.diariodecanoas.com.br/regiao/225688/memorias-e-saudades-divididas-onde-a-historia-jaz.html

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