A morte nos faz cair em seu alçapão, / É uma mão que nos agarra / E nunca mais nos solta. / A morte para todos faz capa escura, / E faz da terra uma toalha; / Sem distinção ela nos serve, / Põe os segredos a descoberto, / A morte liberta o escravo, / A morte submete rei e papa / E paga a cada um seu salário, / E devolve ao pobre o que ele perde / E toma do rico o que ele abocanha.
(Hélinand de Froidmont. Os Versos da Morte. Poema do século XII. São Paulo : Ateliê Editorial / Editora Imaginário, 1996. 50, vv. 361-372)

domingo, 4 de dezembro de 2011

Túmulos destruídos deixam ossadas a céu aberto em cemitério de Itu (SP)

Ocorre no hospital Pirapitingui, que foi um dos maiores leprosários do país.
Ação do tempo e vandalismo danificaram praticamente todos os túmulos.



Sepulturas quebradas, estátuas espalhadas pelo chão e mato alto formam o visual decadente do cemitério São José, que fica no interior do Hospital Pirapitingui, em Itu (Foto: Mayco Geretti/ G1)





Por Mayco Geretti. Do G1 Sorocaba e Jundiaí. Publicado 26/11/2011 18h31 - Atualizado em 26/11/2011 18h31 no site: http://g1.globo.com/sao-paulo/sorocaba-jundiai/








O cenário é de devastação, ou mesmo de filme de terror. No cemitério São José, que fica dentro do Hospital Dr. Francisco Ribeiro Arantes, em Itu, praticamente não há túmulos inteiros. O cemitério existe desde a década de 1930, quando o hospital, conhecido como hospital-colônia Pirapitingui, foi inaugurado e passou a operar como um dos maiores leprosários do Brasil. A destruição do cemitério, causada pela ação do tempo e pelo vandalismo, deixa crânios e outros restos mortais a céu aberto.

Ao chegar ao Pirapitingui, a impressão é de se está entrando em um condomínio fechado. Na portaria, há vigias, mas a cancela é mantida aberta. Como existem mais de 200 pessoas vivendo no local – a maioria descendentes de doentes, o volume de visitantes é grande. É a zeladora quem orienta a reportagem sobre como chegar ao cemitério São José, onde estão enterrados centenas de ex-pacientes. Pelo trajeto, ruínas de grandes estruturas hospitalares e de convivência hoje abandonadas. Na época em que o Pirapitingui surgiu, portadores da hanseníase eram internados compulsoriamente por agentes de saúde para evitar o avanço da doença. Quando morriam, eram enterrados na área da unidade de saúde.



Ossadas, tufos de cabelos e restos de caixões são
encontrados a céu aberto. (Foto: Mayco Geretti/ G1)





O portão do cemitério é de madeira, com uma corrente sem cadeado fechando-o. Ao entrar, é fácil perceber o abandono. Cacos de esculturas de santos estão pelo chão e as tampas dos túmulos estão quebradas. Em várias delas é possível encontrar crânios, ossos do fêmur, tufos de cabelo e restos de caixões.

O vandalismo parece ser responsável pela maior parte dos danos, mas em alguns casos é nítido que invasores violaram seputuras à procura de objetos de valor, como dentes de ouro. Nestas, tijolos foram retirados, abrindo buracos por onde é possível passar o corpo de uma pessoa adulta.

Uma funcionária do hospital, que pediu para não ser identificada por temer represálias, afirma que quem pode, retira a ossada dos falecidos do local. "Famílias com mais dinheiro já levaram as ossadas de seus entes queridos para outros cemitérios. Esse clima de abandono espanta as pessoas. É raro aquelas que ainda visitam seus mortos. Acho que a dor por encontrar essa situação é tamanha que elas preferem nem voltar. Ver uma flor nova sobre uma das sepulturas é algo muito raro", afirma.

O G1 tentou contato com a diretoria do Pirapitingui neste sábado (26), mas foi orientado a procurar a assessoria de imprensa do Governo do Estado, responsável pela administração do hospital. Na capital, ninguém foi encontrado para falar a respeito.

No começo do ano a Secretaria de Estado chegou a informar que havia um projeto para que toda a estrutura do hospital fosse transferida à prefeitura de Itu, que poderia transformar o local em um bairro, mas até agora a iniciativa não saiu do papel.



Visitas de familiares ao São José são raras, segundo funcionários do Pirapitingui. A sensação ao passar por entre as sepulturas é de que ninguém frequenta o local há décadas. (Foto: Mayco Geretti/ G1)





Fonte: http://g1.globo.com/sao-paulo/sorocaba-jundiai/noticia/2011/11/tumulos-destruidos-deixam-ossadas-ceu-aberto-em-cemiterio-de-itu-sp.html

Veja também:
http://www.dgabc.com.br/News/5928935/cemiterio-de-leprosario-tem-ossos-a-ceu-aberto-em-sp.aspx

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