A morte nos faz cair em seu alçapão, / É uma mão que nos agarra / E nunca mais nos solta. / A morte para todos faz capa escura, / E faz da terra uma toalha; / Sem distinção ela nos serve, / Põe os segredos a descoberto, / A morte liberta o escravo, / A morte submete rei e papa / E paga a cada um seu salário, / E devolve ao pobre o que ele perde / E toma do rico o que ele abocanha.
(Hélinand de Froidmont. Os Versos da Morte. Poema do século XII. São Paulo : Ateliê Editorial / Editora Imaginário, 1996. 50, vv. 361-372)

terça-feira, 20 de março de 2012

Espírito Santo: Santa Leopoldina lança Circuito Turístico dos Cemitérios

Foto: Julio Huber. Imagem disponível em 20/03/2012 no site: http://www.montanhascapixabas.com.br/index.php?x=materia&codItem=736&codArea=4


Por Julio Huber. Notícia publicada, em 21/07/2010, na seção "Santa Leopoldina >> Turismo" do site: http://www.montanhascapixabas.com.br


Nos últimos anos têm sido criados diversos circuitos turísticos no Estado. Entretanto, um lançado esta semana no município de Santa Leopoldina, região Serrana, tem chamado a atenção por ser diferente dos demais. Ao invés de circuitos gastronômicos, de cachoeiras ou de agroturismo, foi lançado o primeiro Circuito dos Cemitérios do Estado.

O que pode parecer estranho em primeiro momento, é bastante comum em diversos países do mundo. Na França e na Argentina, por exemplo, alguns cemitérios se tornaram pontos turísticos que atraem milhares de viajantes do mundo inteiro.

Em Santa Leopoldina, o objetivo da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo é homenagear pessoas ilustres e lembrar a história dos moradores já falecidos que contribuíram de alguma forma com a formação e o desenvolvimento da cidade. Segundo o secretário, Jefferson Rodrigues, o Jefinho, 9 túmulos fazem parte do circuito.

“Nesta primeira etapa do projeto os turistas poderão visitar 9 túmulos, localizados em um cemitério do centro, um na localidade de Suíça, um em Luxemburgo, e uma Igreja no Tirol. A maioria já foi sinalizada com placas que contam a historia dessas pessoas ilustres”, explicou o secretário.

Ele destacou ainda que mesmo tendo uma aparência muitas vezes triste, os cemitérios, principalmente os mais antigos, guardam belas e ricas surpresas e histórias. “Falamos que os cemitérios são museus ao céu aberto”.

Entre os túmulos que fazem parte do roteiro estão o do jogador José Fontana, que entre alguns títulos conquistados do Brasil, também foi campeão da Copa do Mundo de 1970. Há também o da menina Maria Gilda, que morreu afogada em uma bacia de água. O seu túmulo permanentemente está cheio de água, que segundo algumas pessoas é milagrosa. Existem também túmulos de famílias importantes, artistas e políticos.

Quatro turistas de Aracaju (SE), que visitaram Santa Leopoldina na última terça-feira, aproveitaram para conhecer o curioso circuito turístico. O representante comercial José Felisberto Ferreira, 53 anos, disse que nunca havia visitado um cemitério como ponto turístico de uma cidade.

“É muito diferente esse tipo de opção turística. Entendo que é uma forma de mostrar quem foram as pessoas importantes do município”. A esposa dele, Simone Huber e o casal Marcílio Huber e Ilza Maria do Nascimento Huber, todos de Aracaju, foram os primeiros a visitarem o novo circuito, juntamente com um grupo de jovens de Santa Leopoldina.

Túmulo de campeão da Copa do Mundo de 1970 faz parte o circuito
 
Foto: Julio Huber. Imagem disponível em 20/03/2012 no site: http://www.montanhascapixabas.com.br/index.php?x=materia&codItem=736&codArea=4

Nascido em Santa Teresa em 31 de dezembro de 1940, José de Anchieta Fontana jogou no Vasco da Gama, onde formou uma dupla defensiva com o jogador Brito. Em 1969 ele deixou o Vasco para defender o Cruzeiro, quando a dupla foi desfeita.

Em 1970, Brito foi contratado pelo Cruzeiro e voltou a jogar com José Fontana. No mesmo ano a dupla foi convocada para disputar a Copa do Mundo de 1970, sagrando-se campeã do mundo pelo Brasil.

Ele encerrou a carreira em 1972. Oito anos mais tarde, durante uma partida de futebol entre amigos, Fontana sofreu um ataque cardíaco e morreu, aos 39 anos. Ele foi sepultado ao lodo de seus pais, no cemitério da Sede de Santa Leopoldina. A Rua José de Anchieta Fontana, na Sede do município, leva o nome em sua homenagem.

Entre os títulos de José Fontana se destacam: Campeonato Capixaba em 1959 e 1962; Taça Guanabara em 1965 e 1967; Torneio Rio São Paulo em 1966; Campeonato Mineiro em 1969 e 1972 e campeão na Copa do Mundo de 1970.

História de milagres em túmulo de Maria Gilda
 
Foto: Julio Huber. Imagem disponível em 20/03/2012 no site: http://www.montanhascapixabas.com.br/index.php?x=materia&codItem=736&codArea=4

Um dos túmulos que chama a atenção dos turistas é o da recém-nascida Maria Gilda. Filha do farmacêutico Silvestre Ferreira e de Lucia Reisen e neta de Maria Zelinda Avancine e José Reisen, ela faleceu em janeiro de 1923 afogada em uma banheira.

Em sua homenagem foi construído um mausoléu, onde a cruz esta sob uma armação de concreto. A parte interna é concretada e oca, onde permanentemente está cheio de água, mesmo nos longos períodos de estiagem.

A origem dessa água é tida como milagre. Antigamente muitas caravanas, de vários lugares do Brasil, visitavam em romarias o túmulo em busca de curas para mais diversas doenças, como o câncer. Muitos se dizem curados até hoje. Os mais velhos moradores da cidade contam que a avó, Dona Maria, foi a mulher mais caridosa que o município teve e que seu sepultamento foi o mais concorrido dos já realizados na cidade.

Os zeladores do cemitério Aete Nunes, 57 anos e Luciano Lihtnhld, 65, disseram que duvidaram que o aparecimento da água era milagre. “Certo dia retiramos a água do túmulo, que em 15 minutos estava cheio novamente. Pensávamos que era apenas água empossada. Especialistas já fizeram analises aqui e disseram que não há lençol freático ou algo parecido. Só pode ser milagre mesmo”, acredita Aete.

Como chegar a Santa Leopoldina

Santa Leopoldina, que integra a Rota Caminhos do Imigrante, esta localizada Região das Três Santas (Santa Maria de Jetibá, Santa Teresa e Santa Leopoldina). O município fica a 48 quilômetros de Vitória. Para chegar basta passar por Cariacica Sede, com entrada na Rodovia do Contorno.

Conheça os túmulos do circuito

Francisco Schwarz

Foi uma das maiores autoridades na história de Santa Leopoldina. Estudioso de etnias, ele publicou dois livros. Nasceu em Santa Leopoldina e exerceu cinco mandatos de deputado estadual e prefeito. Ele abriu a maior parte das estradas do município. Após aposentado ele começou a pintar e se destacou na arte.

Luiz Holzmeister

Foto: Julio Huber. Imagem disponível em 20/03/2012 no site: http://www.montanhascapixabas.com.br/index.php?x=materia&codItem=736&codArea=4

Luiz Holzmeister Filho era promotor de justiça no município quando faleceu. Foi prefeito de Santa Leopoldina e construiu o prédio da prefeitura. Luiz também criou o Museu do Colono, situado na rua principal da cidade e no prédio que era residência de sua família. O museu é uma das principais atrações turísticas da cidade.

Albert Richard Dietze

Nasceu na Alemanha, em 1838. Em 1869 migrou para o Brasil, passando a trabalhar no Jardim Botânico, no Rio de Janeiro. Pouco depois instalou a sua "Photographia Alemã". Em 1874 o fotógrafo transferiu seu estúdio e residência em Santa Leopoldina. Ele foi um dos mais importantes fotógrafos da época e faleceu em Santa Leopoldina em 1906.

Família Vervloet

A Família Vervloet deixou a Bélgica em dezembro de 1858 chegando ao Brasil em abril de 1859. No mesmo ano fixou residência em Santa Leopoldina. A família iniciou diversos ramos de comércio no município e realizou a primeira exportação de café para a Europa, a construção das primeiras casas residenciais e comerciais, a iluminação da cidade, o abastecimento da cidade com água encanada e a exploração do Rio Santa Maria.

Família Reisen

Foto: Julio Huber. Imagem disponível em 20/03/2012 no site: http://www.montanhascapixabas.com.br/index.php?x=materia&codItem=736&codArea=4

A história de sucesso da Família Reisen começou em 1899 com José Reisen. Ficou órfão de pai com apenas 4 anos de idade e foi adotado pelo tio Jean Baptiste Vervloet. Com 24 anos passou a ser o procurador dos seus negócios, quando seu tio deixou o município de Santa Leopoldina para residir no Rio de Janeiro. Ele foi um dos responsáveis pela construção da estrada de liga Santa Leopoldina a Santa Teresa.

Família Vervloet (cemitério de Luxemburgo)

Jean Joseph Vervloet e sua esposa Anne Marie Van Isterdael deixaram a Bélgica em dezembro do ano de 1858 acompanhados dos filhos. Eles deixaram importantes contribuições para o desenvolvimento do município.

Padre Hadrianus Lantchener

O Frei Hadrianus Lantchener era originário da região de Innsbruck, Áustria. O Frei chegou ao Espírito Santo em 1856, onde fundou a Paróquia de São José do Queimado, tendo prestado serviço religioso também na comunidade de Santa Isabel. Em 1860 Santa Leopoldina recebeu a visita do Imperador D. Pedro II e na ocasião o Frei celebrou a missa na Capela de Nossa Senhora do Patrocínio. Ele morreu em 23 dezembro de 1868 e foi enterrado no cemitério que ele mesmo construiu.


Veja também:

"Após viagem, capixaba se apaixona por turismo em cemitérios: O Circuito dos Cemitérios é um projeto de turismo inédito no estado."

sexta-feira, 2 de março de 2012

Jerusalém: Túmulo do século I pode esconder exemplo mais antigo de arte cristã


Ossários têm inscrições em grego e uma imagem que remete para a história de Jonas

Jonas na boca de um peixe, num túmulo em Jerusalém. Imagem disponível em 02/03/2012 no site: http://www.cienciahoje.pt/index.php?oid=53273&op=all


Notícia publicada em 28/02/2012 no site CiênciaHoje - Jornal de Ciência, Tecnologia e Empreendorismo ( http://www.cienciahoje.pt ).


A exploração arqueológica, em 2010, de um túmulo intacto do século I, em Jerusalém, revelou aquilo que pode ser a mais antiga imagem cristã. A investigação foi feita utilizando uma câmara robótica que mostrou um conjunto de ossários em pedra calcária, gravados com uma inscrição grega e uma imagem que os especialistas identificam como sendo “claramente cristã”.

A inscrição grega de quatro linhas num dos ossários refere-se a deus “elevando” ou “erguendo” alguém e a imagem esculpida na pedra num ossário adjacente mostra um peixe muito grande com uma figura humana na boca. Os especialistas consideram que se trata da evocação da história de Jonas, profeta do Antigo Testamento.

No relato bíblico, Jonas foi engolido por um peixe, no mar Mediterrâneo, quando fugia de uma missão que lhe tinha sido destinada na Assíria pelo próprio Deus de Israel. Passou três dias e três noite na barriga do peixe antes de ser regurgitado. No Novo Testamento, nomeadamente no evangelho segundo São Mateus, Jesus refere-se ao “sinal de Jonas” como símbolo da sua futura ressurreição, três dias depois de morrer.

As imagens de Jonas na arte paleocristã (século II d. C.), simbolizando a esperança na ressurreição, são bastante comuns, nomeadamente nas catacumbas romanas. Não havia até agora registo de arte cristã relativa ao primeiro século. Os investigadores não acreditam que a imagem tenha sido realizada por seguidores do judaísmo, visto que na cultura judaica não são permitidas imagens de pessoas ou animais.

O túmulo investigado data de antes do ano 70 d. C., altura em que deixaram de ser utilizados ossários devido à destruição da cidade de Jerusalém pelos romanos. Se esta imagem for realmente cristã, será o registro arqueológico mais antigo deste tipo de arte, realizada pelos primeiros seguidores de Jesus.

O estudo está publicado online desde hoje (28/02/2012), num artigo de James Tabor, investigador da Universidade da Carolina do Norte, em Charlotte. A publicação do artigo é simultânea com a edição do livro «The Jesus Discovery: The New Archaeological Find That Reveals the Birth of Christianity», do mesmo autor e de Simcha Jacobovici, professor e realizador. Na próxima Primavera, o canal Discovery vai transmitir um documentário sobre esta descoberta.