A morte nos faz cair em seu alçapão, / É uma mão que nos agarra / E nunca mais nos solta. / A morte para todos faz capa escura, / E faz da terra uma toalha; / Sem distinção ela nos serve, / Põe os segredos a descoberto, / A morte liberta o escravo, / A morte submete rei e papa / E paga a cada um seu salário, / E devolve ao pobre o que ele perde / E toma do rico o que ele abocanha.
(Hélinand de Froidmont. Os Versos da Morte. Poema do século XII. São Paulo : Ateliê Editorial / Editora Imaginário, 1996. 50, vv. 361-372)

domingo, 6 de maio de 2012

Cemitério dos Escravos em Guaçuí (ES): Marco Histórico e Cultural dos afro-descendentes

Vista do Cemitério dos Escravos da Fazenda Cachoeira a partir da estrada Guaçuí X São José do Calçado. Foto: Luiza Maklouf, Junho de 2011. Imagem disponível em 06/05/2012 no site: http://www.folhavitoria.com.br/entretenimento/blogs/elogoali/2011/06/08/cemiterio-dos-escravos-guacui/


Por Rogério Frigerio Piva


O município de Guaçuí está localizado no sul do estado do Espírito Santo, em região limítrofe com os estados do Rio de Janeiro e Minas Gerais.

Segundo o historiador Luiz Ferraz Moulin, do Instituto Histórico de Guaçuí, em entrevista concedida em 2011, para repórter Luiza Maklouf para o blog “É logo ali - Verão”, do jornal on-line “Folha Vitória” http://www.folhavitoria.com.br/  (veja a entrevista na íntegra no vídeo da coluna ao lado), a colonização do município, se deu a partir do ano de 1838 com a fundação de grandes latifúndios mantidos por mão-de-obra escrava, voltados para monocultura do café.

Destes, o principal latifúndio foi a legendária Fazenda do Castelo, pertencente à influente família Aguiar Valim.

Senhores de terras e gentes, os Aguiar Valim foram responsáveis pela introdução de grande contingente de africanos, vindos de Moçambique, em fase anterior a extinção do tráfico. Após o fim do tráfico de africanos, passaram a adquirir escravos em Minas Gerais. Muitos destes que já haviam sido trazidos das províncias do nordeste, como o Ceará, para Minas Gerais.

Crianças, entre cruzes e cactos, visitando o Cemitério dos Escravos. Imagem disponível em 06/05/2012 no site: http://www.guiadecachoeiras.com.br/pontos_turisticos.php?cod_ponto=3681&cod_tipo=2&cod_cidade=199  

Hoje um dos poucos testemunhos daquele tempo é o velho Cemitério dos Escravos da antiga Fazenda do Castelo que, com os desmembramentos posteriores ficou pertencendo a Fazenda Cachoeira que ocupa parte das antigas terras da primitiva fazenda.

Até a década de 1960 famílias de baixa renda sepultavam seus entes queridos no local, o que foi proibido logo depois, conforme informa Luiz Moulin. O cemitério é uma área de cerca de 150 metros quadrados, cercada e emoldurada por quatro cactos, alguns centenários e que, simbolicamente, identificariam a origem nordestina dos escravos. Cinco cruzes de madeira ainda marcam algumas sepulturas.

Cruzes simples de madeira ainda apontam algumas sepulturas. (Inventário da Oferta Turística do Município de Guaçuí/2005, pp. 35-36) Imagem disponível em 06/05/2012 no site: http://www.turismo.es.gov.br/_midias/pdf/91-4b8434e334705.pdf

Desde 2009 o Cemitério dos Escravos da Fazenda Cachoeira, como é conhecido em Guaçuí, é protegido por lei municipal (tombado) como Patrimônio Histórico e Cultural do município, um exemplo que outros municípios deveriam seguir. No Espírito Santo é o primeiro cemitério tombado do qual ouvimos falar.

Para chegar ao local basta seguir pela rodovia ES-482 até a entrada da Fazenda Cachoeira, entra-se a esquerda seguindo por mais um km no sentido de quem vai de Guaçuí para São José do Calçado. À direita numa encosta encontra-se o pequeno, mas singular, Cemitério dos Escravos.

Fonte:

Historiador Luiz Ferraz Moulin fala sobre o Cemitério de Escravos em Guaçuí (ES).Vídeo de Luiza Maklouf postado no You Tube em 07/06/2011.


Veja também:

• Sobre Tombamento Histórico do Antigo Cemitério dos Escravos (20/04/2009):


• Inventário da Oferta Turística do Município de Guaçuí /2005:


• Sobre a colonização de Guaçuí:

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